Desde que conhecemos o mundo, nos é ensinado que batalhas e guerras marcaram as Eras e períodos históricos. Entretanto, é difícil saber se o que as escolas e livros ensinam são os fatos reais – já que não estávamos lá para presenciar com nossos próprios olhos.

Além disso, o que vemos e ouvimos são sempre histórias de guerras contadas por homens, vendo apenas o lado masculino. Mas eles nunca foram os únicos a lutarem essas batalhas patrióticas. Diferentemente de como se sabe, muitas mulheres também fizeram parte desses confrontos.

O exemplo deste texto é Jovita Alves Feitosa, também conhecida como a Joana d’Arc brasileira – em um parágrafo já citei o nome de dois mulherões da p****.

Mas calma lá: primeiro de tudo, quem foi Joana d’Arc? Tenho certeza de que o nome não é estranho. Hoje, santa canonizada pela Igreja Católica, foi uma heroína francesa que lutou na Guerra dos Cem Anos – que durou 116, vai entender. Ela dizia receber visões de santas, e isso a instruiu a ajudar as forças de Carlos VII, Rei da França, para que assim pudessem se livrar dos domínios da Inglaterra.

Com essa breve explicação talvez dê para entender um pouco quem foi Jovita.

Mulher de Guerra

A jovem de dezessete anos lutou como voluntária durante a Guerra do Paraguai. Com uma duração de 6 anos, esse confronto aconteceu porque o país fronteiriço invadiu o estado de Mato Grosso.

Jovita conseguiu se alistar ao exército após passar por algumas transformações. Assim como em Mulan, filme da Disney, nossa personagem se passou por homem. Cortou os cabelos, disfarçou os seios com faixas, começou a usar roupas masculinas e até mesmo um chapéu, para dar mais credibilidade ao gênero que assumira. Deste modo, foi aceita como primeiro-Sargento no Corpo dos Voluntários. Entretanto, não demorou muito para deixar o disfarce cair. E você se pergunta: ela foi expulsa depois que descobriram que era uma mulher? A resposta é não.

Jovita foi ovacionada como heroína em manifestações populares que sua presença desencadeou. Além disso, foi recebida em palácios presidenciais e até mesmo honrada em peças de teatro. Apesar de todo o sucesso, a Secretaria da Guerra não a aceitou como combatente direta e ela foi admitida para o serviço de saúde.

Por causa de seus feitos como voluntária, Jovita é, hoje, considerada a Joana d’Arc brasileira, como dito quatro parágrafos acima. Mesmo com todo o preconceito que havia – e diga-se de passagem, ainda há-, a luta pela igualdade de gênero é constante e antiga. A primeira convenção sobre os direitos da mulher de que se tem nota ocorreu em 1848, em Nova Iorque.

Mas voltemos à guerra. A jornalista ucraniana Svetlana Aleksiévitch escreveu o livro ‘A guerra não tem rosto de mulher’. A obra é um conjunto de relatos de mulheres soviéticas que lutaram na Segunda Guerra Mundial.

mulheres na guerra

“As mulheres estão caladas. Tudo o que sabemos da guerra conhecemos por uma ‘voz masculina’. Ninguém, além de mim, fazia perguntas para a minha avó. Para a minha mãe. Até as que estiveram no front estão caladas. Se de repente começam a lembrar, contam não a guerra ‘feminina’, mas a ‘masculina'”.

E por que elas se calam sobre a própria guerra? Algumas têm medo de reviver a história. Outras têm receio de levar bronca de seus respectivos maridos. Mas quando se sentem confortáveis ou seguras para contar suas vivências, a visão que temos do confronto ganha outra proporção.

Elas não se limitam a dizer quem ganhou e quem perdeu. São relatos de pessoas reais, que durante o tempo combatendo, chegaram a perder um pouco da humanidade e tiveram medo de não conseguir reencontrá-la. Elas contam sobre a grama que ficava vermelha com o sangue e como os cantos dos pássaros faziam falta.

“Um mundo inteiro foi escondido de nós. A guerra delas permaneceu desconhecida. Quero contar a história das mulheres.”

E nós queremos ser ouvidas. Todas as mulherem têm voz, todas querem contar suas histórias e não serem invalidadas por isso. Num mundo onde as mulheres sempre existiram para servir os homens e estarem caladas, fazer-se ter voz é um ato político.

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2 comentários em “A Guerra Pode Ter Rosto De Mulher

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