Fazem 132 anos que a escravidão foi abolida no papel.
Foram mais de 300 anos de tortura contra aqueles cuja cor da pele fora condenada por monstros que se diziam gente.

São mais de 500 anos de sofrimento contados numa história manipulada por aqueles que seguravam a chibata e fumavam seus charutos enquanto faziam o inocente sangrar. Aquela supremacia branca de um passado vermelho movido por um padrão europeu que ditava lei perante a dor alheia do irmão de cor. Índios tendo suas terras roubadas, negros sendo roubados de suas terras, culturas estraçalhadas com tiros de espingardas e açoitamento em praça pública pois ai de quem tentar ser livre! Ai de quem pedir respeito! Ai de quem pedir socorro!

Ai de quem acreditar que o futuro promete salvação.

2020.
A evolução humana é uma farsa.
A empatia é um mito.
As mortes são muitas, a revolta é rechaçada, a segurança é seletiva.

Antepassados outrora escravizados morreram para que seus netos continuassem sofrendo com o mal de 5 séculos: o racismo. Eis o ódio motivado pelas diferenças que nos tornam únicos, nos tornam belos, nos tornam vivos, mas não o suficiente para permitir que o menino se torne um homem e o homem se mostre digno — como se houvesse tempo para isso. A arma já está apontada, a sentença já foi dita; o Estado não é laico, é racista mesmo.

Eis uma dor ignorada por líderes que cruzam os braços a cada novo filho perdido. Súplicas abafadas pelo braço do policial cujo dever é proteger o cidadão comum, não privá-lo da vida. Histórias interrompidas por invasões a mão armada e tiros que simplesmente não fazem o menor sentido. Estamos mesmo seguros em casa quando a favela é alvo de tiro perdido?

O último suspiro de um negro morto pelo ódio vem embargado de uma perda que seguirá atormentando uma sociedade inteira: a da esperança. Enquanto a mãe chora a perda do filho, o supremacista é encorajado pelo silêncio e se revolta com o barulho. Ai de quem pedir socorro! Ai de quem pedir respeito! Ai de quem tentar ser livre!

Ai de quem ficar no caminho da luta pela igualdade, pois os gritos ficarão cada vez mais altos e o preconceito alheio não vai calar ninguém. Ahmad Arbery, Breonna Taylor, George Floyd, Oscar Grant, João Pedro Mattos Pinto, João Vitor da Rocha. Por todos que perderam a vida injustamente e por todos que vivem com medo do ódio.
Por um mundo onde suas mortes sejam vistas como a última gota d’água de um copo que transborda há séculos.

Não mais. Nunca mais.

500 anos é tempo demais.

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