Nunca pensei que fosse preciso uma pandemia para me levar de volta aos braços de um amor do passado.

Nunca pensei muito, pra ser sincera. Tenho a impressão de que mergulhar no silêncio dos pensamentos pode ser tão laborioso quanto funcional. Não é a toa que o ser humano busca ocupações para distrair a mente por tempo indeterminado. De acordo com a vivência popular, o mal só perturba cabeças vazias por serem mais fáceis de se conquistar. Até que essa não é lá uma péssima visão de mundo — mas é uma visão arriscada por sua inconsistência padrão.

Como manter-se ocupado em momentos de quarentena como este que encaramos?

Infelizmente, não possuo tal resposta. Pelo menos não tão bem formulada quanto sites que apresentam a receita perfeita para o fim do tédio. Por mais que trabalhemos, conversemos e evitemos, o silêncio não nos permite escapatória eterna. Uma hora nos faltam tarefas, assuntos, distrações e desculpas para evitar nossa própria companhia.

Foi em um destes momentos de extrema carência que decidi revisitar o passado para entender o que me movia antes de me render à rotina do mundo. Nada melhor do que reviver sonhos de criança quando se alcança a fase adulta.

Minha infância, assim como a de outros tantos, foi conduzida por uma montanha russa de altos e baixos e momentos que me moldaram por completo. Ouso dizer que certas lembranças, por mais duras que sejam, também fazem parte dessa coletânea transformadora do meu querido eu — mesmo fazendo questão de apagá-las da minha mente para não lidar com possíveis traumas.

Neste breve mergulho do ego, encontro apenas uma constante. Uma que, sem pensar, carrego até hoje nos meus estudos casuais e na minha profissão: a paixão pela escrita.

Pois é. Precisei ficar de “molho” em casa por mais de uma semana para finalmente entrar no túnel do tempo. Após anos praticando a arte do autoevitamento (palavra nova, vou patentear), eis que um vírus me obriga a colocar a rotina em standby e me deixa a sós comigo mesma. Desinstalei alguns aplicativos que tomavam grande parte do meu tempo, deixei as redes sociais um pouco de lado e comecei a tirar certos planos da cabeça para colocá-los no papel.

Hoje, escrevo crônicas quando a inspiração me bate. Escrevo histórias cujas ideias andavam empoeiradas na mais fúnebre escuridão. Tenho quase 10 livros novos que nunca cheguei a ler, mas que agora não largo nem pra comer em paz. Nessas três últimas semanas, voltei a fazer coisas que outrora fazia com lídima normalidade. Lá atrás, sabe? Bem antes do mundo me engolir por completo.

Bem antes d’eu trocar meus sonhos por alguns trocados.

Bom, esse é o meu amor antigo. Depois de todos esses anos, ele ainda me abraça como se fosse a primeira vez, olha nos meus olhos e sorri, dizendo “que bom que voltou, pois senti sua falta”. Pode parecer em vão, mas não pretendo torná-lo um prazer passageiro. Termino este texto com uma promessa para mim mesma — e algumas simples sugestões para aqueles que o acompanharam até o último parágrafo:

Não espere por uma catástrofe para fazer aquilo que você ama. Abrace amores antigos que ainda vivem dentro de você. Por menos tempo que você tenha, sempre haverão 5 minutos; só não os gaste com hesitações e tampouco autossabotagem.

Por último, mas não menos importante… lembre-se: o silêncio não é tão assustador assim.

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