No começo, as preocupações.
É como mergulhar num oceano revolto sem saber nadar.
A cada onda, um novo desespero.
Essa sensação de agonia extrema não pode ser atribuída
a doenças no organismo – o coração palpita, mas não é ataque cardíaco.
A boca seca, mas não é desidratação.
Entre tantos sintomas que falam, esses gritam.
De repente, a calmaria.
Outrora, o vendaval.
A ansiedade é um transtorno psicológico onde o excesso da “autoconsciência” ocasiona medos, fobias e desconforto em situações de confronto, pressão e/ou evento social. Sua motivação depende das experiências vividas por cada indivíduo.
Podendo assumir várias formas, desde ataques de pânico a fobias, sua incidência deriva de uma alteração no sistema nervoso central: os neurotransmissores serotonina, dopamina, norepinefrina e ácido gama-aminobutírico (GABA) estão ligados a transtornos de humor e ansiedade, responsáveis por regular várias funções corporais e mentais. A ação se consta principalmente presente no hormônio serotonina, ligado diretamente à depressão.
Atualmente, esse é um distúrbio de ascendência global

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam Brasil como o país mais ansioso do mundo:
18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno.
Ao oferecer uma porta aberta para o pânico mais severo, a ansiedade afeta o sono e a concentração daquele que se encontra comprometido. Sintomas como inquietação, cansaço e irritabilidade também são bastante comuns, facilmente confundidos com uma típica exaustão. O quadro se agrava quando tarefas demasiadamente simples, como pegar o elevador, falar com um conhecido ou até mesmo sair de casa se tornam obstáculos na rotina de um ansioso.
Nelson, 18, estudante de arte, sofre de sintomas depressivos acarretados pela ansiedade social. Manter relacionamentos com seus colegas de classe tornou-se um desafio cujas barreiras são difíceis de se quebrar em momentos de fraqueza. “A solidão é a grande causadora dos meus problemas”, diz o estudante, cujas limitações o impedem de se divertir até mesmo na presença de seus familiares. “Meus pais tentam me ajudar, mas hoje evito tocar no assunto para não os perturbar novamente”.
Os limites psicológicos estabelecidos pela mente do ansioso podem vir a se tornar mais tangíveis quando não tratados de forma correta.
Foi em uma viagem para o Chile que o engenheiro de computação, Gabriel, 23, descobriu os sintomas da ansiedade e suas limitações em ambientes movimentados.
“Perdi muitos amigos e relacionamentos por conta dessas crises de ansiedade.”
O que pode ser visto como cotidiano na vida de uma pessoa saudável, é encarado como uma batalha de sobrevivência por quem sofre com a síndrome do pânico.
Na maioria das vezes, essas barreiras não ocorrem somente pela parte de quem lida com a ansiedade. A sociedade atual se encontra pouco consciente perante assuntos da mente. Indivíduos acometidos pela síndrome alegam vergonha em ter de procurar apoio psicológico. A partir do momento em que a palavra terapia vira um fardo ao invés de uma solução, observa-se certa resistência em tratar tais transtornos do modo correto: com seriedade, paciência e empatia.
Brasil está na quinta colocação quando o assunto é depressão. (Via OMS)
Não existe tomografia que ofereça um diagnóstico palpável da ansiedade. Por ser uma doença menos visível a olho nu, acompanhamentos profissionais são grande destaque em pesquisas e prognósticos.
O psiquiatra, profissional especializado em crises graves que necessitam de remédios e terapias com intervenção medicinal, desempenha um papel importante ao lado do psicólogo, profissional que, por sua vez, fornece avaliação e terapia emocional ao paciente.
O Dr. Décio Lourenço Reimão diz que a maioria de seus pacientes o procura logo após o terceiro ataque de ansiedade. Muitas vezes a própria família não faz ideia de que um de seus membros passa por esse problema. Segundo ele, a ansiedade social se desenvolve a partir de problemas e traumas pessoais. Talvez algum momento específico da sua vida o levou a questionar coisas que outrora você não parecia se importar, como seu jeito de vestir, de falar, de andar, de agir. A partir desse ponto, com o trauma instalado em sua mente, visitar lugares cheios como festas, baladas e até mesmo o ambiente de trabalho pode te colocar em uma situação de auto-consciência: será que alguém está me julgando?
“Na vida, cada um tem uma fraqueza. O extremo dela pode causar o pânico”, diz Reimão.
Em casos graves de eventos constantes, o dever do psiquiatra é receitar remédios específicos e sugerir acompanhamento psicológico para trabalhar o emocional do paciente.
Hoje em dia, com a abordagem constante pelas mídias sociais e projetos como o Setembro Amarelo (conscientização da população sobre o tema suicídio), a procura por ajuda especializada vem crescendo cada vez mais. “Não é vergonha nenhuma ter esses problemas”, garante o psiquiatra.
Afinal, você não está sozinho. São 18,6 milhões de brasileiros espalhados pelo país carregando um fardo que pode ser desmantelado com o tratamento correto. Buscar terapia não é motivo de vergonha, tampouco uma derrota pessoal. Muito pelo contrário.
Entender seus sentimentos te fará uma pessoa mais forte.
Saiba mais sobre ataques de pânico no dia 14/09 em nova matéria especial.