Moléculas de fosfina foram encontradas nas nuvens de Vênus em dados obtidos pelo telescópio havaiano James Clerk Maxwell e pelo rádio-observatório do Atacama Large Millimeter. Sua presença sugere que eventos químicos peculiares estejam acontecendo já que a fosfina (hidreto de fósforo) é algo que espera-se ver apenas em ambientes onde há vida (como a conhecemos) envolvida.

A Fosfina de fórmula PH3 consiste em um gás incolor de alta inflamabilidade, comumente produzido por microrganismos de modo anaeróbio (sem necessidade de oxigênio).

Vênus – vista em perspectiva 3D via NASA

Segundo planeta mais próximo do Sol e nosso vizinho planetário, Vênus é semelhante à Terra tanto em estrutura quanto em tamanho, mas continua se tratando de um mundo muito diferente. Vênus gira lentamente na direção oposta que a maioria dos planetas. Um dia em Vênus equivale a quase 117 dias terrestres. Sua atmosfera espessa retém o calor como um efeito estufa descontrolado, o que o torna o planeta mais quente do nosso sistema solar com temperaturas quentes o suficiente para derreter chumbo.

É importante frisar que a descoberta está em seus primórdios: há muito o que analisar para chegar à uma conclusão precisa de que existe vida em Vênus. Lembrando que, quando se trata do termo “vida” na ciência, seres microscópicos como bactérias são inclusos. Não há nenhuma indicação de que a vida encontrada fora da Terra possa ser humanoide, ou seja, de anatomia majoritariamente humana.

A livestream oficial que abordou a descoberta e seu significado para a comunidade científica (que não é coisa pouca!) foi realizada no dia 14/09 às 12h no horário de Brasília pela Royal Astronomical Society.

A professora Jane Greaves da Universidade de Cardiff (País de Gales, Reino Unido) é a autora principal do estudo publicado na Nature Astronomy, jornal acadêmico. Em entrevista gravada em vídeo, ela responde algumas questões-chave na compreensão dessa novidade venusiana.

Existe mesmo vida em Vênus?

“Nós sabemos que a molécula da fosfina é uma biomarker“, diz a professora. A tradução do termo remete a produtos que podem ser ligados a uma origem biológica, ou seja, criada por microrganismos vivos. Segundo ela, foi sugerido que há possíveis habitats nas nuvens de Vênus – ou seja, um lugar onde pequenas formas de vida poderiam viver.

Existe um porém: essas nuvens, que se encontram a 50km de altitude do solo venusiano, estão 10 vezes mais alto do que se pode imaginar como topo da atmosfera na Terra. Apesar de conterem muita acidez, a temperatura aproximada de 20º Celsius garante a hipótese de que seja sim um ambiente habitável.

Ainda assim, é de praxe que cientistas considerem essa vida em potencial como sendo algo jamais visto. Comparações com organismos terrestres podem e serão feitos no futuro, mas com certeza não serão idênticos. A descoberta será, mais uma vez, inédita e de importância universal.

ClaudioVentrella/IStock


Como foi feita essa descoberta?

Ao utilizar radiotelescópios para detectar a presença da molécula fosfina na atmosfera de Vênus, a equipe de Greaves procurou por sinais específicos em distâncias de ondas eletromagnéticas.

“Quando você está olhando para o comprimento de uma onda de cerca de um milímetro, Vênus age essencialmente como uma lâmpada gigante no céu”, explica. “Mas se você olhar para um comprimento de onda muito específico, um pouco dessa luz está faltando porque as moléculas de fosfina a absorveram e, portanto, ela não está presente”.

Como resultado, a equipe acaba observando um tipo de linha ondulada que acompanha o comprimento da onda, até que uma espécie de declive em forma de v se forma. Esse, no caso, é o sinal da fosfina. Ao analisar os dados, eles chegaram a conclusão de que não há como ser outra molécula a não ser a PH3.

O trabalho realizado em seguida envolveu cálculos específicos para explicar o porquê de tal resultado. Apesar de comumente conectada a atividades biológicas, o estudo tinha em mente estudar também a possibilidade de uma origem natural da própria atmosfera venusiana. As opções seriam:

  • Reação química com minerais que explodem do solo
  • Reação química relativa à luz do sol

Ambas foram eventualmente descartadas.

O que realmente originou a fosfina em Vênus?

No nosso planeta Terra, a fosfina pode ser criada de duas maneiras: industrialmente com propósitos diversos ou biologicamente por micróbios como bactérias pequenas que prosperam em ambientes sem oxigênio. É sempre bom ressaltar que a molécula PH3 é altamente tóxica para seres grandes como nós, seres humanos. O tipo de microrganismo responsável por tal criação prova ser um ser vivo diferente do qual estamos acostumados.

“É muito difícil explicar a existência da fosfina sem associá-la à vida.”

Mas existe outro porém: voltando à acidez das nuvens de Vênus, é difícil imaginar que qualquer tipo de vida sobreviveria sem fazer um grande esforço. Existem vários tipos de bactérias terrestres que sobrevivem a acidez de até 5%, o que já é uma façanha incrível segundo Greaves. Em Vênus, as nuvens possuem pelo menos 90% de acidez, o que é incrivelmente corrosivo, e a incapacidade da ciência conseguir realizar experimentos nesse ambiente dificulta a quebra desse obstáculo.

Conclusão: existe ou não existe vida em Vênus?!

A professora explica que não há como oferecer uma verdade absoluta com os resultados obtidos, mas que a ideia de enviar uma nave para colher amostras pode ampliar as pesquisas até a descoberta perfeita.

Se não conhecemos nem metade dos nossos oceanos (ainda!), como será conhecer uma vida que nunca jamais imaginamos antes?

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