Dieta pra emagrecer, dieta pra engordar, dieta pra reeducação alimentar. São tantas opções por aí que o mundo das dietas merece a própria prateleira no supermercado.

Mas se existem tantas variações para melhor nos acomodar sem tanto sacrifício, por que continuamos sofrendo ao seguir uma dieta? O que a torna tão terrivelmente difícil?

Quando falei para amigos próximos que iria fazer essa matéria, eles me ofereceram uma excelente explicação logo de cara:

“Porque comer é bom, ué!”

Sim, certo. Contra fatos não há argumentos. Eles estariam certos se a dieta ideal pregasse o jejum intermitente, mas não é assim que funciona. O certo não é deixar de comer, e sim realizar todas as refeições do dia com base em alimentos saudáveis.

A dúvida continua: por que é tão difícil seguir uma dieta?!

Desesperada por respostas, a equipe do 9noandar conversou com 3 profissionais diferentes, cada um com conexão direta aos obstáculos existentes.

A dieta é minha e eu sigo se eu quiser

Vamos começar com o óbvio. Vitória Saraiva (@vitoriasrvnutri), nutricionista, respondeu 3 perguntas chave que podem matar nossa curiosidade logo de cara.

Das pessoas que você já atendeu procurando por dietas saudáveis, quantas se mostraram mais relutantes?

Algumas. Muitos pacientes não querem sair da zona de conforto e experimentar por coisas novas, achando que precisam cortar tudo da dieta… tem casos em que eu passo o plano alimentar e até hoje o paciente nem olhou o que tá escrito lá.

Qual a maior dificuldade que elas apresentaram?

A maioria é por falta de planejamento, a famosa “falta de tempo”, principalmente no período da tarde e acabam se acomodando em comer produtos industrializados, um salgado (frito ou assado), biscoitos recheados, salgadinhos, entre outros.

Tento sempre colocar alimentos fáceis nessas horas que possam carregar consigo, tipo uma fruta com castanhas, por exemplo, e mesmo assim não é seguido, porque não seria tão palatável quanto um industrializado.

Mesma coisa no jantar. A falta do planejamento em não deixar algumas coisas pré-preparadas, leva o paciente ao ifood kkkk, porque nao quer preparar nada por cansaço

Por que é tão difícil seguir uma dieta?

Seguir uma dieta é difícil quando você não tem acompanhamento com o profissional de nutrição. Até o paciente chegar no nutricionista, ele já tentou várias vezes dietas de internet, da blogueira, simpatias, etc. Pode até perder peso pela grande restrição que essas dietas vão ter, mas esse peso volta, justamente pela restrição. Então existe uma alteração no comportamento alimentar, onde vai ter uma restrição – vontade do alimento proibido – a ingestão desse alimento em uma quantidade superior ao que seria necessário, e assim roda o ciclo.

A melhor dieta é aquela em que o paciente consegue seguir, em que ele consegue levar como estilo de vida e sem sofrimento/restrição; a alimentação precisa ser prazerosa.

Na sua opinião profissional, a publicidade pode ser um obstáculo na luta pela alimentação balanceada?

Com certeza é um dos fatores. Você vê muitas propagandas de alimentos industrializados e não vê de alimentos saudáveis, porque não é atrativo, não é tão palatável quanto os da indústria e não vai vender tanto quanto.

Outro fator é de que muitas pessoas acham que comer saudável é caro, porque os alimentos saudáveis tendem a ser mais caros que os embalados. Mas se voce parar para pensar, não é mais caro. Os industrializados são vendidos em uma quantidade menor. Vou dar o exemplo de um salgadinho:

50 g de salgadinho custa, em média, R$ 3,50, então 100 g custa R$ 7,00 e o kg R$ 70,00. O kg de manga está, em média, R$ 7,00… As pessoas estão gastando muito mais com os industrializados do que com os alimentos naturais.

Pense, fale, compre, beba

Segundo a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o setor de produtos orgânicos ampliou as vendas em mais de 50% durante a pandemia.

Taí uma boa notícia, certo?
Sim, mas é claro que tem um porém.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) mostra que o típico arroz e feijão do brasileiro teve uma queda no consumo, enquanto alimentos alimentos processados como fast-food continuam a subir com o tempo.

O consumo de frutas também reduziu, de 45,4% para 37,4%. Já a frequência na ingestão de sanduíches e pizzas cresceu de 10,5% para 17%.

Por que será que não conseguimos abrir mão de lanches rápidos?
Essa até eu consigo responder.

– Porque são rápidos
– Logo, são práticos
– E, infelizmente, são extremamente deliciosos.

Fala a verdade: dá pra resistir a uma propaganda dessas?

A evolução da publicidade deixa de lado o compre porque é legal e passa a usar uma outra estratégia: a da memória afetiva. Compre porque você vai se sentir legal, independente do produto. Havia uma época onde os comerciais de cigarro vendiam a ideia de poder, de beleza, de riqueza – fume cigarros da marca x e seja descolado, afinal, pouco importa os riscos que afetarão o seu pulmão.

Veja só o vídeo abaixo e debata a seguinte questão: será que se o produto anunciado fosse uma fruta ao invés de cigarro, as pessoas não sentiriam o mesmo desejo?

Desde os comerciais divertidos de cerveja aos comerciais aconchegantes da Coca-Cola, toda propaganda bate na mesma tecla: o desejo de obter determinado produto pela falsa sensação de felicidade.

O estudante de publicidade João Cirera afirma que uma atuação publicitária na popularização de produtos naturais certamente levaria as vendas a alcançar novos patamares. Vende por que é fresquinho ou é fresquinho por que vende? Um pouco dos dois, diga-se de passagem, mas a publicidade com certeza influencia horrores.

“A gente não orienta as pessoas, a gente estimula.”

Mas e um fast food mais saudável? Difícil acreditar que essas duas palavras funcionem na mesma frase, né? A quantidade de conservantes que alguns sanduíches possuem é o suficiente para mantê-los intactos após dias, semanas, MESES sem estragar.

A última estratégia do Burger King foi criar uma linha de sanduíches menos “paranormais”. Enquanto frutas estragam em questão de poucos dias, provando o quão natural são (mesmo com todos os agrotóxicos utilizados, mas isso é outra conversa), os novos hambúrgueres do BK seguem uma linha similar.

Através de uma peça publicitária chamada ‘Whopper Mofado’, a empresa mostrou a novidade de hambúrgueres mais naturais: sem aditivos, a tendência é estragar como comida de verdade.

Isso não quer dizer que o sanduíche vai entrar na lista de alimentos saudáveis, ok? Uma vez fast food, sempre fast food. A gordura continua presente, assim como o número exarcebado de calorias e sódio.

Mente sã, corpo são

Mas será que abandonar o fast food e abraçar a alimentação saudável de forma brusca não pode afetar o psicológico de alguém? Sim, com certeza. Porém, isso não quer dizer que mudanças na alimentação oferecem risco no desenvolvimento de doenças como a ansiedade e a depressão.

Segundo a estudante de psicologia Thainá Rodrigues, para desenvolver qualquer uma dessas condições é necessária uma combinação de fatores intensa. Primeiro, uma predisposição genética a desenvolver esses distúrbios. Segundo, a relação com a dieta adotada teria que ser extremamente prejudicial, sem equilíbrio, com objetivos e razões condicionadas a mexer com o emocional de cada paciente, como uma baixa autoestima ou uma necessidade tóxica de agradar terceiros.

“Quando se trata da mente humana, é quase tudo um “depende”, né.”

Quando as dietas adotadas são muito bruscas, existe menor chance de adesão. A mudança gradual é mais interessante por ser factível. Tem que ser possível manter a consistência sem sacrifícios maçantes, pois isso motiva as pessoas a alcançarem maiores e melhores resultados.

“Nesse sentido, a mudança brusca poda levar o indivíduo a ter problemas de autoconfiança, por exemplo”, completa Thainá. “Por se frustrar em não conseguir alcançar o que deseja, acaba sendo desmotivador”.

Em casos semelhantes, se o paciente já tiver um histórico de depressão e/ou ansiedade, é possível que a dieta venha a servir como gatilho.

Eis que surge uma nova pergunta: Será que o acompanhamento psicológico não acaba sendo essencial?

“Sim! A psicologia pode ser uma grande aliada no tratamento nutricional”, afirma Vitória. Se o paciente for predisposto ao desenvolvimento de transtornos alimentares ou apresentar algum durante o processo, o apoio de um segundo profissional é muito bem-vindo.

Vale lembrar que o psicólogo não vai ter o papel de ajudar na mudança de hábito em si, e sim na compreensão de padrões de pensamentos e comportamentos que levam a autossabotagem.

“O psicólogo proporciona um lugar de escuta atenta e de acolhimento, podendo fazer observações pontuais com um olhar profissional treinado pra te acolher nas suas dificuldades e angústias.” Thainá Rodrigues sobre a união nutri-psicóloga.

Por fim, uma publicidade bem feita prezando pelo lado saudável dos alimentos naturais completa a santa trindade da dieta perfeita. Big Mac? Hoje não! Vá de retro, tentação!

Agradecimento especial às jovens fontes que participaram da matéria. Nós ainda vamos mudar o mundo.
Imagem de capa: Louis Hansel via Unsplash

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