“Ninguém nasce odiando o outro pela cor da sua pele, ou por sua origem, ou por sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”. – Nelson Mandela

Hoje é comemorado o dia da consciência negra, mas por que ele tem esse nome, quando surgiu e por que apenas um dia se todo dia deveria ser consciente? 

A história do dia

Dia 20 de novembro foi o dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro. Os membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial elegeram o homem como símbolo de luta e resistência, por isso a data foi a escolhida para celebrar a luta dos negros contra a opressão.

No final da década de 70 e o quase fim da Ditadura Militar, muitos movimentos sociais ganharam força e, entre eles, o movimento negro. O Brasil estava sendo redemocratizado aos poucos e na Constituição Federal de 1988 foram inseridas medidas e leis que tinham o objetivo de reparação histórica. 

“Ter uma data é importante para relembrar que a violência comtra negros, através da objetificação de seus corpos e questionando se eram realmente humanos não acabou com a Lei Áurea. Na verdade, Brasil lhes virou as costas até que uma reparação fosse feita mais de cem anos depois. Então não é um dia para celebrar o fim do racismo, mas que ocorram debates, estudos e homenagens para aqueles que resistiram por nós”, afirma Letícia Silva, de 22 anos.

Em 9 de janeiro de 2003 foi instituída a lei de obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira. Já em 10 de novembro de 2011, o vinte de novembro entrou em vigor como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Apesar de ter sido instituído como algo nacional, a data não foi dada como feriado obrigatório, por isso os municípios têm autonomia para decidir se é um dia comum ou não. 

A população negra no Brasil

O povo brasileiro é formado basicamente por três raças: os brancos (europeus), os índios (nativos) e os pretos (escravos trazidos da África). Brasil é, provavelmente, o país mais miscigenado do mundo, carregando mais de 500 anos de história nesta conta. Enquanto o tempo foi passando, as raças foram se diluindo cada vez mais, apesar de as bases continuarem sempre as mesmas. 

Até 2015, a porcentagem autodeclarada de brancos era maioria, mas segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, a população de negros – o conjunto de pardos e pretos – ganhou ainda mais força e totaliza 56,2%. Atualmente, o povo brasileiro se encontra com esta definição de divisão:

Brancos: 42,7%

Negros & pardos: 56,2%

Amarelos e Indígenas: 1,1%

“Hoje é um dia de muitas lutas, lutas que abriram e abrirão caminho para que possamos ocupar lugares, ter representatividade, conquistar direitos e deveres. A constituição diz que a lei é aplicada de maneira igualitária para todos, mas sabemos que é mentira. Sabemos que é mentira quando vemos crianças negras e pobres sendo baleadas e mortas em operações da polícia, quando confundem objetos com armas – mas só quando são portados por pretos -, quando sofremos racismo estrutural… Mas hoje é um dia de comemorar e celebrar a negritude”, aponta Ana Julia S. de Freitas, 19. 

O 13 de maio

Nesta data, em 1888, Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, a lei que aboliu a escravidão no Brasil. Na época da sanção, havia ainda cerca de 700 mil escravos fazendo os trabalhos braçais que os donos de fazenda se recusavam. Foi um feito muito importante para o povo negro que sobrevivia em condições mais que precárias ao lado de seus “senhores”. 

Entretanto, assim que a lei foi assinada, os agora ex-escravos não receberam nenhum tipo de apoio do governo. Eles então tinham duas opções: ou voltavam para a África ou continuavam nas fazendas trabalhando e ganhando muito pouco. A maioria não tinha como voltar, o que restava era continuar ali. 

É a exata mesma situação de quando os brancos assinavam as Cartas de Alforria. No século 18 existia esse documento, em versão paga e gratuita, que libertava o escravo da situação escravagista. Para as cartas pagas, geralmente o negro juntava muitos trocados antes de conseguir ter o necessário, e se ainda faltasse qualquer parte, ele continuaria a ser escravo. Já as gratuitas libertavam adultos – que continuavam a trabalhar nas fazendas como antigamente – e crianças. 

O negro livre não tinha para onde ir. Os trabalhos que ele sabia fazer eram os braçais da fazenda. Então ele continuava, mas numa situação um pouco menos pior porque recebia – um pequeno – salário. Por isso, muitos associam o treze de maio à uma falsa liberdade, e usam o vinte de novembro como a data oficial. 

“Infelizmente temos que ter um dia para o povo que não é negro (não todos) lembrar que soremos muito no passado e que isso não mudou o mínimo. Acho também que o nome já fala muita coisa: consciência negra. Temos que ter consciência de que o pior foi feito com seres humanos como nós por um detalhe: a cor. Nós negros há temps consciência de muitas coisas e todos os dias passamos pelo pior. Ao meu ver a pior coisa é quando atravessam a rua quando nos veem”, comenta Marcelo Lopes, 23. 

Representação

Não é novidade para ninguém que hoje em dia há muito mais representatividade que antigamente, apesar de ainda faltar muito trabalho pela frente. É importante que as crianças negras vejam alguém negro na televisão e não se sintam sozinhas. É importante que hajam bonecos negros em posições de grande prestígio. Beyoncé, cantora afro-americana, é uma das celebridades negras mais influentes.

Emily Bauman / Unsplash

Nos últimos anos de sua carreira ela dedicou sua música – uma mistura de pop com hip hop – a enaltecer a beleza feminina e negra, sempre reforçando a ideia feminista de que as mulheres podem fazer o que quiserem e ser quem elas quiserem. Sobre a representatividade, as fontes falam: 

“Me sinto representado quando chego numa empresa e o contratante é negro e que teve a oportunidade. Quando vejo a Maju! Quando vejo um negro crescendo na vida estudando e conseguindo realizar seus sonhos mesmo com toda a dificuldade.” – Marcelo.

“Me sinto representada pelos movimentos negros que estão sempre em busca dos direitos e deveres que estamos tentando conquistar desde que a população preta foi deixada as margens da sociedade, em situações precárias. Me sinto representada pelos que buscam discutir e promover meios de vencer a luta contra o sistema racista.” – Ana Julia. 

“Eu reconheço a importância do dia, porém não me sinto totalmente representada, porque acredito que não é uma pauta que deva ser pensada em um só dia. É um processo de desconstrução.” – Letícia 

O 9noandar separou alguns segmentos importantes, presentes diariamente na nossa vida, para exaltar os negros e seus feitos, fruto de seus esforços e trabalho duro. Afinal, todo dia é dia de ser consciente. Confira logo abaixo.

A música preta

Também chamada de Black Music, é um grupo gêneros musicais influenciados pela cultura africana. Os escravos levavam sua música quando transportados para os países americanos e ali desenvolviam-se novas técnicas e novos instrumentos. Os principais gêneros deste grupo são: Jazz, Blues, Rhythm and Blues, Soul e Rock and Roll. 

Blues: gênero musical originado por afro-americanos no sul dos estados unidos. Se desenvolveu por causa de raízes africanas, músicas tradicionais e músicas de trabalho. O ritmo meio lento e melancólico é uma relação ao próprio nome, já que blues, em inglês, significa melancolia. 

Jazz: originado do Blues, o jazz surgiu de uma mistura de tradições religiosas, entre elas, a afro-americana. O movimento, como era chamado, se originou século 19 nas comunidades negras de Nova Orleães e na cultura popular, porém seu desenvolvimento foi a partir do século 20. Até 1915, o jazz não era considerado como música. 

Soul: também chamado de soul music, se originou nas comunidades afro-americanas entre 1950 e 1960, diretamente do Jazz e do Rhythm and Blues. Na época, muitos movimentos sociais ganharam força, como por exemplo o da revolução dos jovens e o movimento social antirracista. Soul, alma em inglês, portanto, significa música da alma, no caso a música africana independente de gênero. 

Rhythm and Blues: introduzido nos Estados Unidos no final da década de 1940, o termo era usado para descrever gravações feitas majoritariamente por afro-americanos. As primeiras manifestações desse sub-ritmo, originado do blues, jazz e gospel, era como um rock negro, vindo antes daquele que conhecemos hoje. Inclusive, o R&B, como também é conhecido, contribuiu para o desenvolvimento do Rock and Roll. 

Rock and Roll: o rock’n’roll (o ‘n’ em abreviação de “and”, em inglês) é uma mistura de blues com country, originado desses dois gêneros e também da música gospel e R&B no início dos anos 1950. Tal estilo se difundiu para o mundo todo muito rapidamente e influenciou a moda, atitudes e estilo de vida. Antes do rock’n’roll existir, a música era categorizada por raça, nacionalidade, estilo, instrumentação e até mesmo religião.

Músicos famosos

Whitney Houston: a cantora de “I Will Always Love You” é considerada a maior de todos os tempos. Ganhou um total de 415 prêmios em sua carreira e era conhecida também como “A Voz”, “Rainha da Balada” e “Rainha do Pop”. 

Stevie Wonder: além de cantor e compositor, é também ativista de causas humanitárias e sociais. Ganhou 25 Grammy Awards na carreira, o maior número já conquistado por um artista masculino. 

No Brasil

Gilberto Gil: de 2003 a 2008, Gilberto foi ministro da Cultura no Brasil. Suas composições musicais englobam músicas africanas, reggae, rock, gêneros tipicamente brasileiros, música disco e funk. Em 1999, recebeu o título de Artista pela Paz, pela UNESCO. Foi também embaixador da ONU para agricultura e alimentação. 

Alcione: a também conhecida como Marrom é uma das maiores sambistas brasileiras. Recebeu o título Rainha do Samba é Rainha do Brasil e, até agora, vendeu mais de 8 milhões de discos pelo mundo. 

Política Preta

A política usada na Ágora, na Grécia Antiga, já não existe mais – em termos. Enquanto na época apenas cidadãos (homens, brancos, maiores de dezoito anos) poderiam exercer seu papel político, o restante ficava de fora. Em pleno século 21, todos têm direito ao voto, mas ainda se veem poucas cadeiras ocupadas no plenário, seja no Brasil ou no mundo. É importante que haja a representação de poder negro e, a passos lentos, isso tende a crescer. Muitas conquistas vieram pelas mãos deles. 

Nathan Dumlao / Unsplash

Malcolm X: ativista político e defensor dos direitos dos negros, foi o líder de alguns movimentos negros entre 1950 e 1960 e defendia três pontos: 

• O islamismo: por ser um movimento afro-americano, os elementos do Nacionalismo Negro são muito fortes. Por isso, ele acreditava que o islamismo seria uma das – ou a única – forma de promover a igualdade entre os povos. 

• A violência como autodefesa: para Malcolm, a violência não deveria ser usada como forma de barbárie gratuita, mas sim como um meio legítimo de conquistas, já que todas as mudanças históricas se deram de maneira violenta.

• O socialismo: acreditava que a questão do negro passava pela estrutura do capitalismo. Assim, fundou a Organização para a Unidade Afro-Americana, um grupo não religioso que sustentava a ideia que o racismo era o inimigo, e não o povo branco. 

Martin Luther King Jr: pastor e ativista político, foi o líder do Movimento dos direitos civis dos EUA. Sua luta era baseada em não-violência, inspirado principalmente por suas crenças cristãs e o ativismo não-violento de Gandhi. Liderou a luta contra a segregação, em Albany, ajudou a organizar a Marcha Sobre Washington (onde ditou o famoso discurso Eu Tenho um SonhoI Have a Dream, em inglês), e ganhou o Nobel da Paz por sua resistência antirracista não-violenta. 

Nelson Mandela: formado em advocacia de direitos humanos, foi também um líder rebelde e o primeiro presidente da África do Sul livre. É considerado como o mais importante líder da África Negra e também o pai da nação sul africana. Foi o maior símbolo da luta contra o regime segregacionista do Apartheid (veja mais abaixo). A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 18 de julho, dia de nascimento do líder, como o Dia Internacional Nelson Mandela, para valorizar a luta pela democracia, justiça e liberdade mundialmente. 

No Brasil

Marielle Franco: socióloga e política brasileira, Marielle ficou conhecida por suas lutas a favor do feminismo e direitos humanos e criticando a intervenção da Polícia Militar no Rio de Janeiro. Suas proposições legislativas buscavam garantir apoio às mulheres, à população LGBT, negros e moradores de favelas. Após seu assassinato, em 14 de Março de 2018, tiveram início muitos protestos em todo o território brasileiro. Em julho do mesmo ano, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro consolidou o dia da morte da ativista como Dia Marielle Franco – Dia de Luta Contra o Genocídio da Mulher Negra. 

• Instituto Marielle Franco: criado pela família da vereadora com o intuito de buscar justiça, defender sua memória e articular formação política para mulheres, negros e favelados.

• Casa Marielle: espaço criado com a finalidade de formação política e atividades culturais.

Ciência Preta

A ciência é um outro lugar onde não existem tantos negros inseridos. E se existem, são pouco conhecidos. Costumamos associar ciência a Einstein (o pai da ciência. Até aqui é algo branco e patriarcal), mas quantos outros nomes incríveis existiram e existem ainda, esquecidos pela história e reconhecimento de seus esforços? 

As 4 matemáticas negras da NASA: Dorothy Vaughan, Mary Jackson, Katherine Johnson e Christine Darden: elas participaram de alguns dos maiores sucessos da NASA, fornecendo cálculos para as primeiras viagens dos EUA ao espaço.

Lembrando que as quatro ainda o fizeram durante uma época em que ser negro e ser mulher limitava muito o que elas podiam alcançar. Elas usaram suas mentes geniais para mudar o mundo mesmo vivendo as dores do racismo bem de perto. Dorothy, Mary, Katherine e Christine lidaram com segregação racial, sexismo desconcertante e racismo no local de trabalho, sem falar da pressão que era fazer parte da corrida espacial. Elas suportaram preconceitos imensos: de ofensas à segregação de, sério, banheiros. O grupo de mentes incríveis participou também da memorável missão da Apollo 11 – aquela que levou o homem à lua.

Neil deGrasse Tyson: escritor, astrofísico e divulgador científico norte americano, é também diretor do Planetário Hayden no Centro Rose para a Terra e o Espaço e investigador associado do departamento de astrofísica no Museu Americano de História Natural. O asteróide 1994KA foi renomeado para 13123 Tyson em sua homenagem. Em 2004 foi declarado como um dos cinquenta astrofísicos afro-americanos mais importantes. 

No Brasil

Viviane dos Santos Barbosa: a pesquisadora baiana desenvolveu um produto catalisador que reduz a emissão de gases poluentes na atmosfera. Foi premiada durante a International Aerosol Conference, na Finlândia. 

Cinema Preto

No cinema e televisão, apesar de ainda pouca representação, ela começou a ganhar mais força nos últimos anos. Entretanto, muitas produções ainda retratam o negro em um contexto atrasado, rústico e em posições inferiores. Um filme que veio para trazer mais representação foi Pantera Negra, produção da Marvel Studios. O longa contou com especialistas em África para a produção e com um elenco majoritariamente negro. Visuais de Wakanda (o país retratado no filme) e vestimentas foram baseados em culturas africanas reais. Wakanda Forever! 

No Brasil, o filme Cidade de Deus também traz representação. Apesar de o enredo tratar de criminalidade, assim como no outro, a maioria do elenco é composta por negro. É um marco no cinema nacional e recebeu quatro indicações ao Oscar. Separamos umas pessoas super conhecidas nas telonas – e telinhas -, confira!

Viola Davis: a atriz e produtora norte americana foi a primeira atriz negra a alcançar a chamada Tríplice Coroa da Atuação (Oscar, Emmy Award e Tony Award). A revista Times a elegeu duas vezes como uma das 100 pessoas mais influentes do planeta. 

Morgan Freeman: ator, produtor, narrador e diretor de cinema, começou a carreira em 1960. Já ganhou Oscar e Globo de ouro, além de ter o nome estampado em uma estrela na calçada da fama. 

No Brasil

Lázaro Ramos e Taís Araújo: Lázaro é ator, apresentador, dublador, cineasta e escritor de literatura infantil. Em 2009 foi nomeado embaixador do Fundo das Nações Unidas da Infância (UNICEF) e considerado, no mesmo ano pela revista Época, um dos 100 brasileiros mais influentes. Está produzindo um programa chamado Falas Negras com o objetivo de contar histórias de negros, conhecidos ou não, mas que tiveram impacto na sociedade.

Taís é atriz, apresentadora e jornalista. Em 2004, consolidou-se como a primeira protagonista negra de uma novela da Rede Globo. Em 2006, foi também a primeira apresentadora negra do programa Superbonita, da GNT. Em 2017 foi eleita como uma das celebridades afrodescendentes mais influentes do mundo com menos de 40 anos. Ainda em 2017, ela foi nomeada Defensora dos Direitos das Mulheres Negras pela ONU Mulheres Brasil.

O casal é destaque na televisão brasileira e foi apontado como o mais poderoso do showbizz nacional. 

Esporte Preto

O esporte é quase terra de todos, mas também de ninguém. Quanto racismo existe nas pistas de corrida, nos ringues de luta? Alguns casos foram extremamente falados no Brasil em relação ao futebol, como o do jogador que foi chamado de macaco pela torcida. Mas a maioria dessas personalidades são plenamente conscientes de fazerem – ou terem feito – um bom trabalho e levar sua cor mais longe. 

Lewis Hamilton, F1: sete vezes campeão de corridas de Fórmula 1, é considerado um dos maiores pilotos de todos os tempos. O britânico tem Ayrton Senna como um dos ídolos de carreira. 

Sereena Williams, tênis: é classificada pela Associação Feminina de Tênis como a tenista número 9 do mundo em simples, vencendo 23 torneios de Grand Slam e a apenas um título de igualar a australiana Margaret Smith Court. 

Tiger Woods, golfe: é considerado o melhor golfista. Aos 29 anos alcançou a marca de dez grandes conquistas do golfe profissional. Apenas ele e Bobby Jones conseguiram ganhar treze títulos importantes antes dos 30 anos. 

Michael Jordan, basquete: ex-jogador de basquete norte americano, hoje é dono da Charlotte Hornets, equipe de NBA. É considerado por muitos como o melhor jogador e um dos desportistas masculinos mais importantes da história. 

Muhammad Ali, boxe: foi considerado um dos maiores desportistas da história do esporte, conseguindo o título de “Desportista do Século” em 1999 pela revista estadunidense Sports Illustrated. Seu apelido era “The Greatest”, em tradução livre: o maior/o melhor.

No Brasil

Pelé, futebol: o ex-atacante brasileiro é considerado como um dos maiores atletas de todos os tempos. Em 1999 foi eleito Jogador do Século pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol. É o maior goleador da história, marcando 1281 gols em 1363 jogos. Já chegou a ser também o atleta mais bem pago do mundo. 

Daiane dos Santos, ginástica artística: foi a primeira ginasta brasileira, entre homens e mulheres, a conquistar uma medalha de ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística. Tem dois movimentos com seu nome após ter sido a primeira a fazê-los: o duplo twist carpado, ou Dos Santos I, e a evolução desse, duplo twist esticado, ou Dos Santos II.

Anderson Silva, UFC: também chamado de Spider, conquistou 17 vitórias seguidas e 10 defesas de título consecutivas. Já lutou também no Boxe, Muay Thai e MMA, neste último sendo considerado um dos maiores lutadores da história. 

Rafaela Silva, judô: é a primeira brasileira e a primeira atleta, entre homens e mulheres, a se tornar campeã mundial e olímpica na história do judô brasileiro. Além disso, faz parte do programa esportivo das Forças Armadas Brasileiras e tem a patente de terceiro sargento na Marinha do Brasil. 

Artes Pretas

Geralmente, a arte é o local de fala de muitas pessoas. A maioria usa a arte como forma de resistência, de expressar opiniões. Se engana quem diz que não é algo político já que, ao levantar uma bandeira, automaticamente defende-se uma ideia. 

Loïs Malou Jones, pintora: viveu como uma expatriada negra em Paris entre 1930 e 1940. Suas pinturas abordavam África e Caribe, assim, seus “indivíduos de estudo” eram os afro-americanos. Após sua morte, um amigo publicou um livro em nome dela, contando sobre sua vida e os pioneiros afro-americanos que ela trabalhou e foi amiga. No Museu de Belas Artes, em Boston, há uma bolsa de estudos com seu nome, assim como no departamento de Belas Artes da Universidade Howard. 

Toni Morrison, escritora: a escritora, editora e professor escrevia sobre raça, gênero e beleza. Ganhou o Prêmio Pulitzer de melhor ficção em seu livro “Amada” e foi considerado a melhor obra de ficção americana dos últimos 25 anos pelo The New York Times. 

No Brasil

Obra de Aleijadinho / Wikimedia Commons

Aleijadinho, escultor: foi um famoso escultor na época do Brasil Colonial. Duas de suas obras mais importantes estão localizadas na Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. É considerado pela crítica brasileira o maior expoente da arte colonial no Brasil. Alguns estudiosos estrangeiros vão além e o consideram como o maior nome do barroco americano.

Machado de Assis, escritor: o autor de Dom Casmurro – a obra que fala dos olhos de cigana oblíqua e dissimulada – era também jornalista, cronista, poeta, dramaturgo e crítico literário. Por causa do preconceito, seu acesso à educação foi limitado e se tornou autodidata. Alguns críticos e estudiosos o consideram como um dos maiores nomes da literatura brasileira. Já o crítico literário norte americano Harold Bloom nomeia Machado como maior escritor negro de todos os tempos.

Testemunhou a Abolição da escravatura e foi o comentador de muitos eventos político-sociais. Fundou a Academia Brasileira de Letras e foi o primeiro presidente. É um dos grandes gênios da história da literatura, ficando ao lado de Dante, Shakespeare e Camões. 

História Preta

O quanto de história sabemos e o quanto foi esquecido ou deixado às margens de um rio qualquer – que também não faz parte da história? É aquilo de “conhecemos apenas a ponta do iceberg”, mas ainda bem que não fomos deixados tão à deriva assim. De presente, deixo aqui um pouco mais de história – conhecimento não ocupa espaço. 

Apartheid: o nome que significa “separação” foi um regime segregacionista implementado em 1948 pelo pastor protestante Daniel François Malan, e perdurou até 1994. Tal forma de poder tinha o objetivo de cercear os direitos da maioria do povo pela minoria branca que estava no poder. A legislação dividia os habitantes em grupos raciais, além de segregar também saúde e educação, fornecendo aos negros serviços com pouca ou nenhuma qualidade, enquanto que, para os brancos, era o contrário.

O regime trouxe também violência e um movimento de resistência interna. As organizações estataia respondiam com cada vez mais violência e repressão quando a desordem se instalava. Em 1990, o então presidente Frederik Willem de Clerk começou negociações para o fim do Apartheid, culminando nas eleições multirraciais e democráticas em 94, onde Nelson Mandela venceu.

Aqualtune: segundo a tradição, a mulher nascida do Congo é avó materna de Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro. Liderou, em 1665, uma força de dez mil homens na Batalha de Mbwila (entre Portugal e o Reino do Congo). Ao ser capturada, foi levada até o Recife e vendida como escrava reprodutora.

Tomou conhecimento do Quilombo de Palmares e organizou sua fuga para lá. Com os conhecimentos políticos, organizacionais e estratégicos de guerra, foi fundamental para a consolidação do Estado Negro, a República de Palmares. Líder do povo negro, discursava sobre direitos igualitários entre homens e mulheres e contra a escravidão.

No Brasil

Zumbi e Dandara de Palmares: Zumbi foi o líder do quilombo dos Palmares e é considerado o maior heroi do movimento negro no Brasil. Liderou a luta contra a escravidão e reuniu não apenas negros, mas também brancos e indígenas insatisfeitos com o regime escravagista. Foi ele quem chefiou lutas de resistência contra os Portugueses durante 14 anos que só teve fim após seu assassinato, em 20 de novembro de 1695.

Dandara, mulher de Zumbi, foi levada para o Quilombo dos Palmares ainda criança, onde aprendeu a lutar capoeira e manusear armas. Também liderou exércitos, mas estes compostos apenas por mulheres que desafiavam o sistema colonial e participava da elaboração de estratégias de resistência do quilombo. 

Milton Santos: é um dos geógrafos negros mais conhecidos do mundo. Foi o pioneiro da pesquisa geográfica na Bahia e o único pesquisador brasileiro a ganhar o Prêmio Vautrin Lud, considerado o nobel da geografia. Era representante da Casa Civil baiana, mas foi perseguido durante a ditadura militar e encontrou asilo político na Europa. Chamado de “Cidadão do Mundo”, fundou laboratórios na Inglaterra, França, Nigéria, Venezuela, Peru, Colômbia e Canadá e recebeu vinte títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da América Latina e Europa. 

Barão de Guaraciaba: Francisco Paulo de Almeida foi o primeiro e mais bem-sucedido barão negro do Brasil Império. Ganhou dinheiro vendendo e comprando gado e, após casar-se, tornou-se sócio do sogro, também fazendeiro. Após a morte do mais velho, Barão foi quem tocou os negócios e sua fortuna disparou. Tinha sete fazendas e, apenas em uma, 400 mil pés de cafés com 200 escravos. Estima-se que ele tenha sido dono de mais de mil escravos.

Sim, um barão preto e dono de escravos, mas na época essa era a única mão de obra disponível. Fundou dois bancos em Minas Gerais e tornou-se banqueiro. Foi também sócio-fundador da primeira usina hidrelétrica do país. O título de barão lhe foi concedido pela Princesa Isabel por “merecimento e dignidade”, já que foi ainda mais notado por seus atos benevolentes em favor das Santas Casas. 

Jornalismo Preto

Por fim, não poderia faltar a seção dos jornalistas – num blog jornalístico. Os nomes são poucos, os rostos mais ainda. Trabalhando nisso todos os dias, o reconhecimento chega e não pede permissão para entrar. Ele não chega perguntando “senhora?”. E que bom, assim cada vez mais negros têm os esforços levados a sério.  

Thomas A. Johnson, Newsday/NYTimes: pioneiro como repórter negro no Newsday e posteriormente, o primeiro negro a trabalhar como correspondente internacional para o The New York Times. Na época de 1960, as lutas antirracistas estavam ganhando força nos Estados Unidos, e ele se via atuando como repórter e intérprete de mudança e conflito racial. Foi um dos fundadores da Black Perspective, uma organização de repórteres negros em Nova Iorque. 

No Brasil

Maria Júlia Coutinho, Jornal Hoje: Maju, como é conhecida, destacou-se na Rede Globo ao ser a “garota do tempo” tanto no Jornal Nacional quanto no Jornal Hoje. Também apresentadora, cobriu férias de alguns colegas e, desde o ano passado, 2019, deixou de lado a posição de meteorologista para ser âncora do telejornal diário da hora do almoço. Ganhou dois troféus de Melhor Garota do Tempo e o Melhores do Ano na categoria jornalismo. 

Glória Maria, Globo Repórter: conhecida pelas especiais viagens exóticas e/ou as de lugares surpreendentemente bonitos para o programa, a jornalista começou cedo na carreira. Foi âncora de muitos programas importantes como o Fantástico. Foi ela também quem cobriu a Guerra das Malvinas, em 1982. Quando começou, era uma presença quase solitária no telejornalismo, como ela mesma se descreve, e tem orgulho disso. Ganhou alguns prêmios na carreira, entre eles o Troféu Raça Negra, em 2012. 

Sites de apoio: BBC, O Globo, Educa IBGE, Brasil Escola, Folha.

Matéria especial colaborativa: Andremis e Thatlas

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s