Quando eu morava na Itália, o primeiro trabalho que consegui foi algo voluntário. Como as farmácias e lojas de carro aqui no Brasil a cada esquina, lá acontece o mesmo, mas com Igrejas. Não importa se a cidade não tem nem mil habitantes. E foi em uma dessas que passei a frequentar uma vez por semana. Toda terça-feira, às 15h. Comecei nessa época de dezembro. Lá era outono e estava bem frio. Mas eu adorava, a energia era tão boa.

De todas as participantes do projeto, eu era a mais nova. A segunda mais nova tinha 63 anos – veja só o nível. O que fazíamos? Costurávamos pacotes de roupa e comida para enviar às comunidades carentes, fosse da Itália ou de outros países. Algumas vezes cuidei até de pacotes que tinham o Brasil como destino final. 

O centro La Benedetta – que era a parte da igreja que cuidava dos pacotes – sobrevivia de doações, mas em todo o tempo que estive por ali, por volta de três meses, nunca faltou trabalho para nós e nem roupas ou alimentos para embalar. Mas não pense que elas aceitavam qualquer coisa. As roupas tinham que estar em bom estado porque outras pessoas as receberiam. Não é porque as comunidades eram carentes que elas teriam que receber nada mal cuidado. 

Por isso, os pacotes também eram costurados com muito carinho e cuidado. Eram duas horas “intensas” de costura, mas nada era pesado demais com elas. Ao todo, contando comigo, éramos em sete mulheres. Quatro na costura e três na separação de roupas e montagem do embrulho. Quero dizer, oito se contarmos a chefe. Ela era a pessoa que designava quem fazia o que e recebia as doações – unboxing de recebidos.

Por volta das 17h15 terminávamos o trabalho. Era hora do lanche. Café, água, chá e as comidinhas: bolo, torta, panetones, chocotones e até cannoli – doces típicos italianos (ps: a terminação com i, nesse caso, significa plural) feitos em casa. Toda terça-feira era um lanchinho diferente. 

Na época, meu italiano ainda não era lá essas coisas, até porque estava lá só há quatro meses. Confesso: era um pouco catastrófico para eu me comunicar, mas no final nós nos entendíamos. De um jeito meio torto e com dificuldade, mas dava certo no final. Sempre havia a oração antes que, também confesso, ainda não decorei. 

Mas não era isso que importava e sim estar ali, né? Um dias elas falaram até pra eu fazer a oração em português, mas acabamos esquecendo. Se posso dizer, os três meses ali foram dos melhores, com certeza. Não importa como eu estava me sentindo antes, era só chegar ao La Benedetta que tudo passava, tudo ia embora. E quando eu ia embora a sensação ficava em mim. 

Depois veio o coronavírus e nos impediu de continuar nosso trabalho ali, mas como eu sentia falta – e ainda sinto. Era tão bom estar em volta das boas ações e envolta pelas nonnas. Todo dia era um bom dia quando estávamos juntas. 

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