Estamos em 2021. O mundo clama por mudanças enquanto a população levanta com esperança renovada na busca pela vacina. O luto pelas perdas do ano anterior persevera, e as consequências de um desmatamento desenfreado prometem noites mal dormidas.
Literalmente.
A temperatura média global da superfície da Terra em 2020 empatou com 2016 como o ano mais quente já registrado, de acordo com uma análise da NASA. Enquanto isso, outubro entrou para a história com um dos piores meses no registro de queimadas da Amazônia e do Pantanal.
Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Pantanal Mato-grossense sofreu o pior aumento nos últimos anos: foram 21.115 focos desde o início de 2020, sendo que durante o mesmo período no ano anterior foram registrados 4.413 focos de calor. Dados levantados pelo LASA (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais) apontam uma perda total de 4,2 milhões de hectares nas queimadas do Pantanal.
28% do bioma foi consumido pelas chamas.

O vírus se espalhou, afetou rotinas, separou famílias, interrompeu vidas e deixou feridas em aberto.
O fogo se espalhou, afetou rotinas, separou famílias, interrompeu vidas selvagens e deixou feridas em aberto.
A cura de ambos já foi desenvolvida, mas apenas uma necessita de cuidados que vão além da zona de conforto já adquirida no ano que se passou. Se foi difícil convencer algumas pessoas a usarem uma simples máscara, imagina o quão trabalhoso é pregar por um estilo de vida sustentável para uma população tão grande?
Desmatamento a longo prazo
O negacionismo governamental prejudicou ações efetivas enquanto as queimadas estavam em seus primórdios. As tentativas de movimentação posteriores foram limitadas a falta de verba apesar dos vários programas ativos constatados no próprio site do governo brasileiro.
Nenhum dado é exacerbado: o fogo não queima apenas em um lugar só. As chamas surgem da combinação simultânea de combustíveis, como o calor e o oxigênio. Quando uma substância combustível se aquece, em determinada temperatura crítica, ela se inflamará e continuará queimando enquanto houver combustível, temperatura adequada e oxigênio no ambiente.
Parte dos recursos foi destinada às Forças Armadas, que passaram a cumprir o papel legal destinado ao Ibama devido à falta de pessoal e de capital. Um novo sistema denominado Sinaflor + também foi criado para maior controle no manejo da madeira na região, rastreando desde à origem e fortalecendo o combate ao desmatamento ilegal.
O aumento das temperaturas atualmente já está causando fenômenos como perda de gelo em geleiras, o que resulta no aumento do nível do mar. O futuro também garante ondas de calor mais longas e intensas e mudanças nos habitats de plantas e animais.
Perdas incomensuráveis
Até agora, nos últimos anos, foram documentadas cerca de 600 novas espécies na Amazônia. No total, são 2.500 espécies de árvores e 30 mil espécies de plantas. Cerca de 1 milhão de espécies selvagens do planeta estão em processo de extinção.
Nesse último ano, houve um aumento de 30% na destruição da Amazônia: o equivalente a 1,4 milhão de campos de futebol desmatados.
Povos indígenas são os principais afetados, como o Guató, que perdeu 92% de seu território em consequência às queimadas ilegais.
As consequências se estendem a longo prazo. Segundo especialistas, em regiões como o Sudeste, Centro-Oeste e interior do Nordeste, a previsão é que a umidade do ar não ultrapasse os 20%. O mínimo recomendado é 60%, vide informações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Vale lembrar que ainda estamos no verão, a estação mais quente do ano.

Dados compartilhados pelo Clima Tempo relembram desastres que desabitaram famílias e que podem sim se repetir no primeiro semestre de 2021. O ar quente e úmido, típico do verão, fica espalhado por quase todo o Brasil e estimula crescimento das grandes nuvens cumulonimbus, aquelas que provocam temporais com chuva forte em pouco tempo, incluindo raios e fortes rajadas de vento.
Sem floresta, sem controle climático. Sem medicamentos naturais. Sem oxigênio puro. Sem água limpa. Sem vida saudável. Sem passeios ao ar livre. São tantas perdas significativas ao bem estar da humanidade que a estimativa é de maior interesse em combater desmatamentos futuros, mas não é bem assim.
Grandes ameaças, grandes soluções
A ideia de seguir uma vida de consumo consciente parece assustar muitos em uma sociedade centrada no consumismo. São muitos os “sacrifícios” que precisam ser feitos para aliviar o peso das dores causadas à natureza:
- Diminuição do consumo de carne já que a produção utiliza grandes áreas de pastagem e de agricultura
- Maior uso do transporte público para evitar excesso de veículos nas ruas
- Menos gastos com a eletricidade e mais utilização de fontes de energia naturais
- Abandono do tabagismo, prática que afeta o ar, o solo, a água e ainda causa desmatamento
- Foco em consumo minimalista, ou seja, menos gastos desnecessários com produtos sem utilidade
- Diminuição do consumo de plástico, cuja decomposição é extremamente lenta e gera um grande volume de lixo
- Separação do lixo orgânico do reciclável
Não parece fácil adaptar toda uma vida para novas rotinas, mas a necessidade para tal não devia ser tão assombrosa. Com o aquecimento global beirando o limite de 1,5ºC, nos aproximamos de uma realidade arriscada onde perigos graves poderão ser enfrentados pela humanidade.
Visões realistas do futuro do planeta Terra apontam aumentos significativos do nível do mar, e até 2050, a média de temperatura global será um ou dois graus mais alta do que a atual. Parece pouco, mas os efeitos podem destruir nações que lidam com a falta de recursos atualmente e abrir um rombo enorme na economia de países desenvolvidos. Ilhas poderão desaparecer e, com elas, sociedades terão de migrar para garantir sobrevivência.
O aumento da temperatura mundial não será uniforme: até 2050, a previsão é de que haverá entre 20% e 70% menos dias de frio extremo, enquanto o número de dias de calor forte subirá entre 30% e 250%.
Se isso já não é motivo o suficiente para adotar um novo comportamento contra o desmatamento, a hora é de repensar nossas crenças. A mudança se faz necessária, o negacionismo não. Se não por nós, pela futura geração, e pelos próximos que ainda estão por vir.
A vida precisa continuar.
Fontes úteis: El País, Gov.Br, BBC Brasil, WWF Brasil, Greenpeace
Um comentário em “O Ano do Desmatamento”