Ansiedade, depressão, crises de pânico: está cada vez mais difícil não se estressar nos dias de hoje, mas a crise do ano passado conseguiu superar todas as expectativas.
Entramos no mês de janeiro, coincidentemente dado como mês da conscientização da saúde mental, com a esperança da chegada da vacina e do fim dos nossos problemas. Ao mesmo tempo, encontramos uma barreira pouco palpável e extremamente sensível: a das sequelas que o vírus trouxe ao psicológico da população mundial.
Uma observação da OMS aponta grande interrupção de serviços essenciais de Saúde Mental em 93% dos países do mundo durante a pandemia. Ao mesmo tempo, houve uma intensificação na procura por esses mesmos serviços.
Fonte: Janeiro Branco
Segundo a Associação Internacional de Gerenciamento de Stress (sim, ela existe), mais conhecida como ISMA, o Brasil entrou no top 3 países com maior número de pessoas afetadas pelo Burnout, síndrome do alto nível de stress. O Japão toma a liderança em disparada, com 70% de seus cidadãos estressados enquanto somos “apenas” 30%; lembrando que a população brasileira é quase duas vezes maior.
Como se isso não bastasse, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), nosso país encabeça a lista de nações com a maior taxa de pessoas que sofrem com ansiedade, mas leva o quinto lugar em casos de depressão. Isso não seria grande coisa se não existissem 193 países oficialmente reconhecidos pelo mundo. Estar à frente de 188 países não é coisa pouca, não.
Ou seja: o Janeiro é Branco, mas a cor atual é de luto quando se trata do aumento de casos de distúrbios psicológicos.
2020 acabou com a minha vida
Pandemia, queda brusca na economia, queimadas nos maiores biomas do mundo e uma péssima representação política em território nacional. É, realmente não tinha como levar uma vida zen em 2020. O descaso público e a impaciência geral, a falta de contato físico e o medo da morte transformaram o cidadão comum em um poço de ansiedade.
Um estudo feito pela Universidade de Nova York mostrou que os eventos positivos do cotidiano, como o reconhecimento pelo desempenho no trabalho ou um convite para jantar, estimulam a produção das células de imunidade do organismo humano. Já eventos negativos possuem o efeito contrário: há uma perda perceptível dessas mesmas células pelo período de 48 horas.
Quantos eventos positivos ocorreram no ano passado? Quantos negativos?
A pergunta é retórica e os resultados são preocupantes. O 9noandar entrevistou 108 pessoas de diferentes faixas etárias e regiões para visualizar os efeitos da pandemia na psique dos brasileiros. No total, 93,5% confirmaram ter sentido algum tipo de stress durante o ano de 2020, entre eles:
43,5% com relação ao isolamento
27,8% com relação a trabalho
22,2% com relação a outros motivos, entre eles o medo, problemas familiares, desemprego e estudos
48,1% dos entrevistados foram diagnosticados oficialmente com alguma síndrome psicológica antes de 2020, 12% durante o ano de 2020 e, no total, 57,5% afirmam sofrerem de ansiedade. A grande maioria sente que a pandemia do Covid19 foi um catalisador para o desenvolvimento dessas síndromes, e 31,5% cogitam fazer visitas ao psicólogo assim que possível.
Mesmo assim, o povo brasileiro parece manter a esperança de que 2021 será um ano melhor. Os resultados na nossa pesquisa alcançaram as 70,4% pessoas que preferem manter o pensamento positivo acima de tudo.
“Foi divulgado um estudo da Fiocruz que durante a pandemia e após a pandemia metade da população pode desenvolver ou manifestar algum distúrbio psicológico”, afirma Miguel Monteiro, psicólogo em formação. Segundo ele, dados estabelecidos pela Fiocruz entendem que até mesmo quem não tem histórico algum de problemas psicológicos pode vir a desenvolver durante o período da pandemia.
“A vida “normal” pós pandemia vai ser muito diferente, então vamos precisar de ajuda psicológica sim pra lidar com tudo isso.”
Ansiosos Anônimos abandonados pelo governo
A interrupção de projetos gratuitos de psicologia social durante o término de 2020 contraria todos os dados compartilhados até agora nessa mesma matéria. Em período de clara necessidade, a ideia de ter direitos revogados aponta um desserviço pela saúde mental do povo brasileiro.
“O presidente Jair Bolsonaro vetou integralmente a proposta que garantia atendimento por profissionais de psicologia e serviço social aos alunos das escolas públicas de educação básica. O PLC 60/2007 (PL 3.688/2000, na Câmara dos Deputados) foi aprovado em setembro pelos deputados, na forma de um substitutivo elaborado pelo Senado.
Depois de ouvir os Ministérios da Educação e da Saúde, a Presidência decidiu vetar o projeto, argumentando que há inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público.”
Fonte: Agência Senado
“Infelizmente não podemos esperar muito do Governo”, conclui Miguel. “O que mais indico no momento são os serviços gratuitos oferecidos por faculdades e pelo próprio Conselho Regional de Psicologia”.
Precisa de ajuda? O APOIAR – ATENDIMENTO ON-LINE é uma iniciativa da USP com o objetivo de atender pessoas que manifestem sofrimento psíquico relacionado à pandemia e ao isolamento/distanciamento social. O atendimento é realizado por psicólogos inscritos no CFP (Conselho Federal de Psicologia) para atendimento à distância. Interessados devem enviar um e-mail para apoiar@usp.br. Clique aqui para acessar o site e conhecer mais sobre o projeto.
Levantar a bandeira branca para conscientização e quebra de tabus é essencial na luta contra distúrbios psicológicos. Procure atendimento gratuito em sua cidade, aborde o tema com a sua família, incentive programas em instituições de ensino e lembre-se de que ninguém está verdadeiramente sozinho.
Das 108 pessoas, 54,6% estão no mesmo barco.
Fontes úteis: Social Good Brasil, USP, OMS
Um comentário em “Saúde mental do brasileiro é afetada durante pandemia”