A pandemia – e a quarentena – do coronavírus começou faz um ano, e desde então, surgem coisas novas a cada dia. 2020 foi o ano do “eu aprendi a fazer tal coisa” e de se reinventar. É difícil encontrar alguém que não tenha começado outra língua em aplicativos, feito cursos online, ou até mesmo desenvolvido habilidades manuais, seja pintar, bordar ou a culinária – e essa sim deu muito certo durante esse período conturbado.
Muitas pessoas começaram a cozinhar do zero, outras apenas reaprenderam aquilo que já sabiam. E principalmente, houve também quem lucrou. Tirando os entregadores de comida, provavelmente as pessoas mais requisitadas na quarentena, alguns donos de loja no setor alimentício também se deram bem.
“Muita gente começou a fazer pão em casa, mas não bolo. Eu, então, oferecia bolos para o lanche da tarde e as pessoas passaram a comprar. No início, toda semana eu tinha uns 10 ou 15 bolos para entregar, e aí também fui me reinventando, produzindo outras coisas, como bolo no pote, pavê, empadão”, explica Lia Critelli, boleira de 40 anos.
A empreendedora já costumava vender uma coisinha ou outra – como o carro-chefe pão de mel – para as pessoas mais próximas, mas foi na quarentena que isso alavancou. Os pedidos chegaram de monte e ela começou a entregar cartões fidelidade, pois assim “os clientes voltam”, nas palavras dela.
Outras pessoas também iniciaram a pensar em como lucrar mesmo no período de crise. O trabalho convencional se modificou muito, e o home office é a coisa mais em alta desde os últimos tempos. As aulas online dominaram o cenário educativo e foi algo que deu muito certo em alguns aspectos.
É o caso de Aline Rios, 30, professora de circo. A mulher nunca tinha ministrado isso por vídeo, mas teve de se adaptar. “Duas alunas minhas mudaram de cidade e a gente não podia se ver por causa do vírus. No mais, elas não queriam parar de fazer aula, então a ideia basicamente de começar algo remoto veio delas”, explica.
Por causa do pouco investimento na cultura, os artistas devem, todo dia, encontrar formas de sobreviver na sua arte. Aline é docente de práticas circenses há mais de cinco anos e nunca tinha pensado na aula online como uma possibilidade de trabalho, mas graças às alunas, tudo mudou. As aulas de flexibilidade e contorção dão um bom resultado até mesmo através das telas dos celulares. Mas nada como uma boa aula face a face.
“Pessoalmente tem como eu auxiliar com orientações mais físicas, no online eu tenho que desmembrar os exercícios em partes pequenas para que as pessoas entendam. Elas precisam visualizar bem o que vão fazer, porque estão sozinhas em casa. Como aluna, eu fiz várias aulas. O online amplia o leque de possibilidades, mas no pessoal tem o desenvolvimento de relação aluno-professor. Nada substitui as aulas presenciais”, aponta.
Outro caso de reinvenção também foi o de Patrícia Fávaro Valério, publicitária de 47 anos. “Na pandemia, fui surpreendida por uma demissão e fiquei meio sem rumo. Já tinha ideia de, um dia, tocar meu próprio negócio, mas o medo sempre foi maior do que a coragem. Então a pandemia fez eu pensar muito e com a ajuda da minha família eu resolvi”, alega.
Ela criou uma “loja” online. Provare é o conceito de levar as roupas na casa das mulheres para que elas possam experimentá-las. Ela contou que a ideia surgiu pois não tinha muito investimento para coisas maiores, assim, resolveu trabalhar com aquilo que sabe fazer: vender. “A loja tem 2 semanas apenas, mas já estou com mais de 300 seguidores no Instagram”, conta animada.
Para o futuro
Por mais que não saibamos quanto tempo ainda demore para acabar o coronavírus e a quarentena, é possível não ficar parado. As três mulheres têm planos para continuar com seus respectivos negócios, afinal, o mundo não para, e muito menos os boletos.
“Eu pego as roupas em confecções, então um dos meus planos é ampliar ao máximo a grade e continuar atendendo bem as clientes. A loja on-line é uma opção de crescimento”, explica Patrícia.
“Eu já tinha ideias de fazer workshops e outros cursos online, mas agora também tenho a expectativa de continuar com as aulas, então dá para promover encontros remotos, conversar, ensinar e atingir mais pessoas com essas informações”, expõe a professora.
“Para o futuro só quero continuar fazendo os bolos com amor e carinho – do jeito que eu sei que faço – e servindo as pessoas”, finaliza Lia.