O ser-humano é perfeito – só que não. O ser-humano é o ser mais falho que existe. É por culpa única e exclusivamente nossa que o mundo está como está. Nós ateamos fogo nas nossas florestas, matamos pessoas sem razão alguma, iniciamos guerras que diziam cidades inteiras. Estamos destruindo o nosso planeta pouco a pouco e ainda queremos ser condecorados por isso. Ainda esperamos que o próprio planeta não se volte contra nossas atrocidades. E é nesse momento que dizemos “é tudo culpa de alguém/algo.”

Temos o constante costume de jogar a culpa em alguém que não somos nós e, junto a isso, uma crítica pesada. É algo quase inato, já que é necessário se policiar, senão começamos a criticar sem nem perceber. E é crítica social, crítica destrutiva, crítica construtiva, crítica literária. Qualquer uma delas é difícil de ouvir, seja de si mesmo ou de terceiros, mas é importante saber ouvir.

“É difícil pedir para que se pense racionalmente e com calma num momento de chateação, mas é importante olhar para a crítica e a pessoa que a está concedendo para que a resposta não seja apenas reativa. Então pensar na relação com essa pessoa – é de trabalho? Familiar? É um desconhecido? Um professor? – e no porquê daquela crítica – foi uma crítica baseada em emoções negativas como a raiva e com a intenção de ferir? Ou foi para instruir? Saber dessas coisas não vai fazer parar de doer, mas vai poder direcionar sobre como proceder”, explica Thainá Rodrigues, 24 anos, psicóloga. 

Crítica (do grego κριτικός, kritikós) significa atribuir juízo de valor a uma opinião – sobre qualquer assunto, porém ainda mais presente em obras musicais, artes plásticas e livros ou artigos de jornais. Mas o ser humano não está acostumado a ouvir algo sobre si, mesmo que seja algo construtivo. O indivíduo tem o costume de pensar que não precisa de ajuda, que sabe de tudo, e não é bem assim. 

“Se você não recebe nenhuma crítica, provavelmente você não tem nenhum sucesso.”

Malcolm X

Immanuel Kant é o filósofo que aborda o tema em seu criticismo. O prussiano da era moderna coloca em debate a maneira como você conhece as coisas e se o próprio conhecimento é plausível. “O que compreendemos da gente e o que realmente somos pode nos levar a reagir melhor ou pior a críticas. O ego pode ser tremendamente ferido, ou um ego “grande demais” pode ficar completamente indiferente.”

A autocrítica como aprendizado

Além dos julgamentos de terceiros, também têm aqueles de dentro de nós mesmos. Existem pessoas que sofrem mais com as autocríticas que qualquer outra coisa. O problema é que o mau-hábito de se cobrar demais se instala rapidamente e, muitas vezes, agir no automático nos leva à estagnação, já que “não está perfeito como eu queria.” 

É muito fácil encontrar pessoas perfeccionistas, seja na hora de escrever um texto, cantar uma música ou até mesmo na hora de dar conselhos – quem nunca pensou naquele conselho bom depois de horas? E não adianta ficar se martirizando por algo que já aconteceu, mas nesses momentos a autocrítica chega rapidamente. 

“A autocrítica em um nível aceitável, ou seja, que não impede a pessoa de seguir, pode ser uma ferramenta útil de constante aprendizado e melhoria de habilidades. Mas se for cruel demais, pode ser que seja mais danosa, sim. Quando a crítica vem de dentro, a gente tem que reorganizar a estrutura de como nos vemos para aumentar a nossa autoestima. Isso pode ser uma tarefa bastante difícil. Além disso, estamos na nossa própria cabeça o tempo inteiro, então quando somos cruéis com nós mesmos, não há como fugir”, aponta Thainá.

Como aprender a ouvir críticas? 

Para as críticas construtivas que vêm com a intenção de ajudar, três passos podem ajudar a recebê-las melhor: refletir se fazem sentido; pensar no que se pode fazer para mudar; agradecer. Já com aquelas que vêm em sentido destrutivo, também é importante não se deixar abater e influenciar. Como? Utilizando a inteligência emocional, não retribuindo e considerando qual a lição positiva que aquilo te ensinou – é difícil, eu sei -, até porque tudo na vida é experiência. 

“Críticas podem ir de encontro a questões que nós ainda não desenvolvemos bem em nós mesmos, questões sobre as quais ainda estamos inseguros em algum nível. A crítica balança e às vezes derruba uma estrutura em construção. Quando estamos seguros o suficiente sobre algo, é mais difícil que acatemos críticas, sejam elas construtivas ou não”, expõe a psicóloga.

Mas no final, os julgamentos vão ajudar a crescer, por mais complicado que seja ouvi-los. É um trabalho interno e, possivelmente, que precise de ajuda profissional. Não é fácil entender os porquês das críticas em um primeiro momento e, tirando aquelas que não agregam nada, sempre há um motivo – que em algum momento será fácil de entender.

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