Hepatite medicamentosa por Ivermectina. 18 mg por dia por uma semana. Por COVID leve em jovem.
Imagine preparar seu organismo para enfrentar uma doença. Dessa forma, encarar quaisquer invasores em potencial se torna mais fácil e menos doloroso. Parece promissor, não acha?
Durante a epidemia do Covid-19, muitos medicamentos foram utilizados em pseudo-tratamentos preventivos. Resultado: a maioria foi amplamente descartada pela ciência por seus efeitos nulos e, na pior das hipóteses, colaterais.
Ivermectina e Cloroquina, respectivamente, são drogas utilizadas no combate a sarna e no tratamento da malária. Talvez você já tenha ouvido falar nessas duas durante o ano de 2020. Ao contrário do que muitos diziam na época, ainda não existe um medicamento que contenha os casos leves ou que previna a infecção – mas a medicina segue buscando por algo efetivo.
Enquanto isso, vale lembrar que o ato de se medicar sem sequer estar doente, popularmente conhecido como “prevenção medicinal”, não só é desaconselhável como pode vir a causar problemas irreversíveis a órgãos como o fígado. Mas por que será que isso acontece?
“Tudo que entra tem que sair de alguma forma”, diz Gabriel Nogueira, estudante de medicina. “Os órgãos que exercem essa função são, principalmente, o fígado e os rins”.
Segundo ele, todo medicamento tem uma dose adequada que deve ser prescrita por um médico. Overdoses advêm justamente de situações em que a ingestão de uma droga supera a capacidade do fígado de metabolizá-la, fazendo com que ela circule por mais tempo pelo organismo e afete outros tecidos.
Certos remédios possuem efeitos tóxicos que afetam as células hepáticas e renais. Antibióticos, por exemplo, devem ser administrados sempre com muita cautela, pois podem atacar o estômago e provocar úlceras.
Remédio nenhum é inofensivo
Existem muitos casos relatados por profissionais da saúde onde pacientes outrora saudáveis apresentam sinais graves de hepatite. O catalisador? Ivermectina.
Foi em uma postagem no Twitter que o médico pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, descreveu uma situação onde o prevenir certamente não é melhor do que o remediar.
Sua paciente, uma jovem que tomou 18 mg de ivermectina (quase 2 comprimidos) por dia em uma semana, precisou fazer um transplante de fígado para arcar com as consequências.
“Muito triste ver uma pessoa jovem a ponto de precisar de um transplante por usar uma medicação que não funciona em uma situação que não precisa de remédio algum.”
Fernandes não foi o único. Vários profissionais se pronunciaram, apontando outros casos parecidos. Transplante de fígado, de rins e até casos de falecimento assombraram hospitais Brasil afora.
Uma receita nada infalível
Também em 2020, muitas prescrições errôneas vieram à tona em reportagens e depoimentos. Não é só a automedicação que preocupa a ciência: o desserviço médico de alguns profissionais também coloca em jogo a saúde do povo brasileiro.
Os remédios apontados como “úteis” até agora não previnem a infecção, não curam casos leves e não influenciam a melhora de indivíduos hospitalizados.
Após ter autorizado o uso da Cloroquina, a FDA, agência que regula os fármacos nos Estados Unidos, voltou atrás. Desde então a droga é contra-indicada sob risco de provocar arritmias, desordens sanguíneas, lesão renal e outras sequelas.
Na esperança de evitar uma doença, o paciente acaba adquirindo novos problemas.
Resultados promissores
Apesar dos alarmes falsos, cientistas parecem estar trilhando o caminho certo: a droga EIDD-2801, também chamada de Molnupiravir, apresentou resultados promissores para prevenir a doença – além de tratá-la em estágios mais avançados.
Especialistas afirmam que o medicamento tem baixa toxicidade, ou seja, não oferece grandes riscos para tratamento preventivo.
As pesquisas ainda estão em estágio inicial. Em entrevista para o estadão, a doutora em neurociências Mellanie Dutra lembra que a testagem precisa ser minuciosa. “Esse é um dado inicial, de modelo animal, que deve ser estudado em fase clínica para pré-exposição”.
A notícia é fresca, mas a necessidade é grande. Toda informação (verídica) é bem vinda na corrida pelo fim da pandemia – e todo cuidado é pouco.