Vivemos de arte desde os primórdios da existência humana.
Um ótimo exemplo de sua existência longínqua são as pinturas rupestres encontradas em cavernas antigas durante escavações. Grande parte da arte encontrada sobreviveu ao período Paleolítico Superior.
Estamos falando de desenhos criados antes do nascimento de Cristo (aproximadamente 50.000 anos antes, para ser mais exata).
A tela que encontramos hoje em museus de arte e lojas de pintura era composta por rochas e rochedos. A “tinta” para pintura não era guache: ela vinha de pigmentos encontrados em rochas, que eles utilizavam como “pincel”.
Em sua maioria, a arte feita por nossos antepassados capturava a essência dos animais existentes naquela época, como mamutes, leões e cavalos. Os desenhos que incluíam a figura humana pareciam contar histórias de caçadas e outras aventuras rupestres, e apesar dos mais variados significados, pesquisadores dividem opiniões quanto aos seus propósitos.
Há quem diga que os traços rudimentares serviam como quadro de lembranças do dia a dia paleolítico. Ou, quem sabe, talvez fosse um método de comunicação entre nossos ancestrais.
Tá aí algo que não se diferenciaria muito dos dias atuais, né? Afinal, a arte também significa comunicação de sentimentos através de gravuras, melodias, textos e danças.
Sem arte, sem vida
Vivemos de música desde que nos conhecemos por gente. É normal ver uma criança batucar nas panelas de casa, cantarolar no banho e ficar hipnotizada ao escutar a melodia favorita. Assim como a arte rupestre, sinfonias inventadas pela humanidade milênios atrás também faziam parte da vida pré-histórica.
Você com certeza já assistiu a algum filme onde tribos indígenas utilizam tambores para se comunicar e dançar em rituais. Esses mesmos instrumentos evoluíram tanto que, atualmente, temos baterias completas para acompanhar aquela batida bacana que ouvimos em todo tipo de canção.
O efeito da música no cérebro vai muito além de uma simples vontade de balançar o esqueleto. Ao ouvir melodias, sejam elas agradáveis ou não, recebemos respostas imediatas das áreas responsáveis pelo movimento, memória, atenção, emoção e discernimento crítico.
Sabe aquele arrepio que sobe quando ouvimos algo que gostamos muito? Estudos comprovam que a música também atua liberando a dopamina, neurotransmissor conhecido como “hormônio do prazer”.
Rhainar Merton (@rhainar)é uma artista multifacetada. A santista de 23 anos dança, canta, toca, atua e, formada em ballet clássico, participa de musicais. Com esse currículo de peso, fica até chato perguntar para ela o que ela seria sem a arte.
Não seria eu mesma, pode apostar! Mesmo também sendo formada em comércio exterior e tendo trabalhado na área, eu nunca deixei de ser artista, não consigo suportar o mundo e ser eu mesma sem isso.
Rhainar
Seu sonho de transformar a arte em um meio de sobrevivência é o motivo de sua participação em diversos projetos. A vontade de virar uma referência no meio artístico a segue aonde quer que vá. Respirar a arte faz parte do seu dia a dia, mas mesmo que não fizesse, ela sabe que, de alguma forma, se faria presente.
Música, por exemplo, é aquela companhia que serve pra qualquer momento. Se estamos tristes, ouvimos músicas tristes. Se estamos apaixonados, ouvimos músicas de amor. A arte melódica acompanhada da arte escrita impacta nossa mente tanto de forma química quanto de modo prático. “Sempre que quero aprender uma modalidade nova de dança é porque quero me divertir”.
E é tanto ritmo diferente que fica impossível não gostar de nenhum!
Escrevo arte e crio vida
Mas já que tocamos na arte escrita, vamos à fundo.
Se pintar já era uma ótima forma de contar histórias, escrevê-las a mão tornou-se essencial. Pra você ter noção de sua grandiosidade, na antiguidade, acreditavam que a escrita era um presente dos deuses
Os gregos pensavam que ela era uma dádiva do titã Prometeu. Os egípcios, de Tot, o deus do conhecimento. Ou seja: um poder tão incrível que somente um deus (ou titã!) seria capaz de criar.
Em 1929, o arqueólogo alemão Julius Jordan desenterrou uma biblioteca de 5 mil anos de idade contendo tábuas de argila com figuras abstratas – escrita conhecida como cuneiforme (feita com auxílio de objetos em formato de cunha). Foi descoberto que o conteúdo dessas tábuas retratava contas e contratos.
Pois é: escrever não é uma arte apenas de humanas. Encontramos a presença dela em várias modalidades de exatas e biológicas, como em equações (as malditas letras no meio dos numerais), fórmulas científicas e relatórios de pesquisas.
Porém, pra quem gosta de uma boa literatura, a verdadeira diversão se encontra na ficção.
Para Ana Tomelin, escritora e leitora assídua, arte é se expressar e mergulhar em um turbilhão de sensações. Não é a toa que ela tem um Instagram literário para abordar sua aventura pelo mundo da escrita (@ficcionismos).
De um jeito mais pessoal, a arte pra mim é como eu expresso meu amor pela vida, minha solidão, minha vontade de dizer algo pro mundo. Seja por meio de um texto, uma história, um banho de chuva, um abraço com uma pessoa querida ou um vídeo-arte, é o jeitinho que eu encontrei pra gritar pro mundo quem eu sou.
Tome
Ao apontar a leitura como seu meio de transporte favorito durante a quarentena do Covid-19, Tome concluiu uma verdade antiga: viajamos para onde quisermos na companhia de um bom livro.
Se nosso corpo reage bem a viagens turísticas, a escrita é uma outra forma de fazer a mesma coisa. Ao escrever, Tome cria seu próprio mundo e suas próprias histórias, e assim não se sente sozinha. “Quando estou criando, realmente sinto que me transporto pra outro lugar… desse jeito acabei conhecendo muitos lugares novos no último ano”.
Pergunte para qualquer escritor o que significa a arte da escrita e obtenha respostas similares a dos gregos e a dos egípcios. É um presente divino, de fato, pois não há outra maneira de se expressar, sentir, viajar e amar sem sair do lugar.
Quanto a uma vida sem arte, Tome não gosta nem de imaginar. “Acho que eu seria meio apagada… uma pessoa menos viva, menos cheia de vontade, com menos noção de quem é”.
Um impacto enorme
Caro leitor: não tem escapatória! Respiramos arte de forma tão inconsciente que, quando paramos para pensar em seu impacto, percebemos o quanto precisamos dela.
Ela segue vivíssima nos livros que lemos, nas músicas que escutamos, nos filmes que assistimos, nos quadros que pintamos e nas roupas que usamos, afinal, a moda é sim uma forma de arte.
Como você pôde ler nessa matéria, nascemos artistas há milênios e não tem como viver sem algo que se faz essencial por gerações a fio. Portanto, pode até ser que uma forma de arte venha a se tornar irrelevante, como as radionovelas do passado; mas ela sempre vai arranjar um jeito de se renovar, como os podcasts do mundo atual.
Tá pra nascer algo que acabe de vez com a arte como a conhecemos. De qualquer modo, não queremos nos livrar dela.
Cá entre nós: não tem coisa melhor do que viver em sua companhia.
O propósito da arte é tirar a poeira da vida cotidiana de nossas almas.
Pablo Picasso
Ótimo texto. Parabéns!
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