Vida corrida, tempo escasso e dias atarefados – tudo isso interrompido em uma questão de dias pelo lockdown em pleno 2020.
Estávamos em Março quando a quarentena virou nossas vidas de cabeça para baixo. Em meio a tantos comércios, empresas e escolas fechando as portas por duração indeterminada, encontramos algo que havíamos perdido com o decorrer da rotina: o tempo.
Até quem seguiu na ativa durante a quarentena teve de se adaptar a horários mais flexíveis. Sem rotina, sem ocupação e com muitas horas de sobra, muitos tiveram a chance de reviver amores antigos, como hobbies outrora abandonados devido a correria do dia a dia. Há quem tenha utilizado esse “momento de reflexão” para fazer coisas novas, coisas velhas, coisas que preenchessem o vazio que o momento trazia e que, infelizmente, ainda traz.
Ver o lado bom das coisas durante uma pandemia é um desafio voraz. Deixar-se sucumbir às dores de sua estadia precisa estar fora de cogitação. Na busca do equilíbrio, trabalhadores e estudantes, workaholics ou não, se viram obrigados a ter de lidar com a seguinte pergunta: e agora?

Autodescoberta
Não foi preciso lidar com a doença de perto para sentir o impacto de forma direta. Enquanto a economia local sofria com a queda de empresas e fechamento de pequenos comércios, encontrar distrações para lidar com um momento tão delicado se provou algo difícil. Notícias ruins se espalham por todo canto, afetando a saúde mental de grande parte da população mundial.
Em meia dúzia de estudos com mais de 10.000 entrevistados, foi descoberto que as pessoas estavam enfrentando mais problemas psicológicos do que antes da pandemia. Entre eles, estresse, ansiedade, depressão e transtorno de stress pós-traumático (PTSD).
O processo da autodescoberta, ou seja, a jornada da descoberta do verdadeiro eu, sofreu os impactos do pior momento possível de se fazer decisões.
A quarentena não “ofereceu” apenas tempo livre: ela trouxe obstáculos na vida de uma sociedade que vivia de trabalho e o fazia para sobreviver. Como encontrar hobbies em meio a tantos problemas? Como (re)encontrar a si mesmo então?
Impactada desde o começo da quarentena, Nathalia Affonso (@hydrangea.fae), jornalista, perdeu o emprego e passou um longo tempo dentro de casa sem receber a visita de amigos. Tendo o silêncio como consequência, passou mais tempo pensando consigo mesma do que ocupando a cabeça com tarefas e deadlines. “Eu comecei a pensar nas coisas que eu gostava de fazer mas tinha parado por conta da vida adulta”, disse ela. “Foi nesse período que voltei a desenhar e pintar”.
Enquanto isso, o escritor Nicolas Azobrab (@escritornicolasazobrab) viu sua busca por emprego sofrer com a queda do cenário econômico brasileiro. Foi também nesse período que ele se deparou com o anúncio de um curso de escrita. Esse foi apenas o começo para vários projetos de contos que Nicolas hoje compartilha em suas redes sociais. “Criei um perfil no instagram justamente para não deixar esse sonho desaparecer como lágrimas na chuva”, confirmou.
Hobby de quarentena
O que os dois têm em comum? A busca por uma ocupação enquanto conviviam consigo mesmos entre quatro paredes.
Nathalia começou a usar a pintura como forma de escapar de tudo que acontecia no mundo; Nicolas usava seu tempo livre para desenvolver uma nova paixão. Essas são descobertas feitas em um período de pausa – hobbies que andavam escondidos pela correria da vida normal de antigamente.
Assim como o escritor, a jornalista (e pintora) também pretende levar seus projetos adiante para transformá-los em fonte de renda. O próprio 9noandar ganhou mais força durante a quarentena, época em que todas as redatoras encontraram-se disponíveis para fazer a ideia florescer.
Funcionários de empresas que fecharam também lidaram com uma alta de descobertas. Muitos tiveram de se reinventar para conseguir sobreviver a nova rotina, e hobbies antigos mostraram-se úteis o suficiente para transformarem-se em empreendedorismo.
O setor dos “empreendedores de pandemia”, somado a mais de 7,5 milhões de micro e pequenas empresas, representa 99% dos negócios privados e 30% do Produto Interno Bruto brasileiro.
Pois é: o ser humano é adaptável. As reinvenções não param de surgir, tampouco param de trazer frutos para uma futura colheita. Até lá, estaremos juntos – e celebraremos cada momento com novas descobertas.