Você olhou para o céu mês passado?
Dizem que Agosto se provou palco para acontecimentos incríveis no universo a olho nu. Bastava sair a qualquer hora do mês, dando a preferência para horários que procedessem o anoitecer.
Após olhar para cima, era só procurar por dois pontos brilhantes. Júpiter aparecia como uma estrela em maior destaque, enquanto Saturno era ligeiramente menos reluzente com uma tonalidade amarela.
Venho tentando observar a abóboda noturna quase todo santo dia na esperança de preencher um “vazio bobo” com tudo o que vejo pela frente, incluindo o tudo que nos circunda apesar de sempre inalcançável.
É gentil da parte dele se fazer visível, mesmo que sutilmente. Aliás, é gentil da parte dele se fazer visível mesmo que minimamente em comparação ao que ele realmente tem a oferecer.
Não que eu esteja reclamando, é claro; de certo são visitantes acanhados já que o fazem com tão pouca frequência e tão mínima repercussão.
Do “sumiço” da lua ao seu reaparecimento fantástico, do alinhamento de Júpiter e Saturno à chuva de meteoros no hemisfério norte (essa eu perdi), olhar para o céu, olhar para o céu de verdade, causa uma estranha sensação de plenitude e insignificância em equilíbrio perfeito.
Faz sentido? Faz sentido procurar sentir-se imenso ao cortejar uma visão que, em sua magnitude inexplorada, em seu tamanho incalculável e em seus trilhões de simbolismos singulares faça-nos sentir tão… pequenos?

Olhei para o céu e vi o infinito que buscava em mim
Permita-me organizar meus pensamentos para não jogá-los aqui, de qualquer maneira, sem pé e nem cabeça e nem sistema solar.
Se o Universo for realmente infinito como julgam as teorias aceitas atualmente pela ciência que o estuda, estamos abordando algo pertinente a cálculos de mesma quantidade, galáxias de mesma quantidade, planetas de mesma quantidade, civilizações de mesma quantidade (aos que creem) e, inevitavelmente, perguntas de mesma quantidade.
O loop é tão infinito que o símbolo escolhido para ilustrar o infinito não poderia ser mais exato… e perturbador, se visto pelo mesmo ponto de vista que este texto visa propagar.
Até porque, se o Universo é infinito, a pergunta “há mais grãos de areia do que estrelas no espaço?” seguirá sem resposta correta enquanto houver a possibilidade de existirem outras Terras e, com elas, outras praias, outras extensões de areia, outros trilhões de grãos e de surfistas esperando pela onda perfeita…
Isso porque ainda não entramos na teoria do multiverso, mas vamos deixar ela para as histórias em quadrinhos, certo? Um infinito de cada vez.
É assustador saber que ainda não exploramos 20% dos Oceanos terrestres, mas já sabemos que o Universo observável contém cerca de 200 bilhões de galáxias (ou 10x mais do que isso, só que não são vistas pelos telescópios mais potentes ainda).
Sabemos tão pouco se comparado ao muito que ainda temos a aprender. É tanta repetição da palavra “ainda”. Mas é que ainda falta tanto e sempre ficará faltando enquanto a biblioteca for realmente infinita como dizem por aí.
Não se deixe enganar: A esperança que eu tenho de criar mil e uma teorias na sua mente de leitor-astrônomo em formação é puramente egoísta.

Infinito, finito infinito
O propósito dessa postagem até agora foi preparar terreno para ver o quanto você já se questionou ou está disposto(a/e) a questionar. O quanto olhar para o céu, olhar para o céu de verdade, te assusta. O quanto olhar para o céu de verdade te encanta.
O quanto olhar para o céu te leva a uma contradição deliciosa entre o vazio e a imensidão, o silêncio e a explosão, o amontoado e a solidão, a quietude e a exaltação, a ansiedade e a satisfação, o desespero e a paz de espírito.
Sensações paradoxais.
Até nossa insignificância é incrível. Quem diria que um infinito de caberia em 1 único grão de areia?
Espero que você tenha aproveitado bem o mês de Agosto. Patrick Hartigan, astrônomo da Rice University, disse à revista Scientific American que o próximo evento semelhante ocorrerá em 15 de março de 2080.
Pode ser que, até lá, nem precisemos fazer tanto esforço.
Amei o texto! Preciso observar mais o céu, em busca de uma paz interior.
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