Como uma boa e clichê história que fala sobre amor, essa também começa com Era uma vez… Mas primeiro, precisamos definir o que ele significa.

O amor é aquela coisa que te faz suar frio, ter palpitações e perder um pouco da noção de espaço? Não, eu chamaria isso de crise de ansiedade. O amor é outra coisa. 

Na mitologia grega, o amor é chamado de Eros. Na romana, Cupido. É o deus do amor físico e do desejo. Aquele que empunha o arco e flecha. Mas não esqueçamos também da mais conhecida Afrodite – ou Vênus, como preferir – a deusa do amor, da beleza e da sensualidade. 

Amor: nome masculino. Sentimento de afeto que se tem em relação a um animal, coisa ou pessoa. Ou também significa atração emocional e sexual para com outro indivíduo. Tem ainda o significado de gosto, esmero e cuidado com o que se faz algo. Por fim, o amor é como um bolo recheado de coisas boas. 

Diferente de paixão, que é muito mais ligada aos prazeres momentâneos, intensidade e impulsos sexuais, amor é algo mais profundo, baseado principalmente na reciprocidade. Talvez tão antigo quanto a maioria das questões sem resposta, ironicamente é um dos temas que os poetas mais discorrem sobre. E não só eles, mas também os músicos, os pintores, as famílias, os jardineiros. 

E obviamente: os filósofos. Eles que questionam a Vida, a Morte, o Ser Humano e tantos outros temas intimamente ligados à nossa existência desde que o mundo é mundo. Questionam o Mundo também, importante lembrar. Todos esses assuntos com letras maiúsculas, porque são importantes demais para serem tratados como casualidades terrenas. 

“A pintura do amor é o tema principal de todas as obras dramáticas, trágicas ou cômicas, românticas ou clássicas, nas Índias bem como na Europa; é também, de todos os temas, o mais fecundo para a poesia lírica e para a épica; sem falar das inumeráveis quantidades de romances que, há séculos, se produzem a cada ano em todos os países, tão regulares quanto os frutos das estações.

Schopenhauer

Falar de amor é algo tão profundo que quase todas – senão todas – as áreas já estudaram sobre isso. Para a ciência, por exemplo, quando amamos o cérebro ativa as regiões relacionadas à recompensa e motivação e desliga aquelas que tem a ver com julgamentos e pensamentos negativos. Além disso, há a influência dos hormônios. Não, não basta tê-los em alta apenas na adolescência para fazer surgirem as acnes. 

“Sempre há algo de loucura no amor, mas sempre há algo de razão na loucura.

Nietzsche

Você sabia que o amor diminui a massa cinzenta do cérebro? Ou que, por exemplo, o amor tem cheiro? Aliás, é pura química: adrenalina, serotonina, oxitocina, vasopressina e por aí vai. Zezé Di Camargo e Luciano avisaram: é o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim. 

Mas o que é realmente o amor ninguém sabe dizer. O 9noandar perguntou a alguns leitores a definição de amor e recebeu as mais variadas respostas.,

“O amor é como o ar, é o que nos mantém vivos e também o que nos move, de certa forma. É o que precisamos para seguir em frente, o que nos faz perceber nossos erros e nos traz a capacidade de pedir perdão e perdoar. O amor é aceitação, o amor é liberdade.”

(Lorena Cruz, 20, estudante de radiologia)

“Amor, pra mim, é o que proporciona enxergar o mundo com outros olhos. Dá vontade de viver intensamente, de criar, imaginar e sonhar ainda mais.” 

(Sabriny Sugayama, 16, estudante)

“Amor é sentir um calor no peito, um frio na barriga, o disparar do coração que você lembra de uma pessoa. É se emocionar assistindo algo, sorrir quando vê um animalzinho ou uma criança. É se arrepiar escutando aquela música, é sentir gratidão, desejar que ‘aquele ser’ seja feliz. Mas apesar de ele se apresentar de várias maneiras, eu ainda não sei definir o amor.”

(Neléia da Silva, 47, técnica de segurança)

“Eu via a palavra amor muito “romantizada” para um sentimento que nem é tão bonito assim. Pra mim não era, em sua base, querer bem ao outro, mas sim querer bem a si mesmo, dar sentido a própria existência. Pensava no amor como algo primariamente neutro, servindo para suprir as necessidades inatas de socialização. Hoje eu vejo que é o companheirismo, respeito e cuidar de uma relação – de qualquer natureza – que faz o amor de fato. Vejo como algo mais bonito que antes, mais positivo. Talvez eu tenha me rendido a tal romantização que eu criticava.” 

(Thainá Rodrigues, 24, estudante de psicologia)

“Amor é você se entregar, é dar sem receber nada em troca. É aceitar os erros do outro, fazer um agrado, um carinho. Dar bom dia e boa noite. É rir e chorar junto.”

(Lia Critelli, 40, doceira)

“Amor é um sentimento de muitas facetas: de mãe, de filho, de irmão, de casal, de amigo… É um dos sentimentos mais nobres, e também um dos mais crueis. Por amor se salva ou se mata, se cuida ou se larga. Mas sem ele não existem outros sentimentos, ele se torna a base de tudo. O amor é a chave mestra.”

(Alexandre Machado, 45, autônomo)

“Amor é colocar as necessidades dos outros acima das suas.”

(Ramon Aricieri, 16, estudante)

“É a chave da evolução do nosso planeta. O amor sentido e o amor atuante é esquecer de si e se colocar no lugar da pessoa amada. Num sentimento mais amplo, é desejar as mesmas coisas para todos. Se o amor fosse aplicado na sua essência amenizaríamos as mazelas do mundo.”

(Marcello Moya, 50, autônomo)

Mas o amor dói? 

Muitas pessoas relatam “as dores de amores”. Seja por causa de ciúme, desentendimentos, ideias opostas ou qualquer outra coisa que faça questionar – sem querer, voltamos aos filósofos. É aquela frase clichê de “os opostos se atraem”. Mas indo ainda mais fundo, os opostos podem até se atrair, mas são os semelhantes que se completam. Por isso, quando as divergências começam, geralmente começam também as discussões. 

No começo dos relacionamentos amorosos, quando estamos apaixonados, ficamos meio cegos para os defeitos dos outros, como já dito ali em cima. Depois, a paixão se transforma em amor. Após passar um tempo com essa pessoa, você começa a enxergar aquilo para que tinha fechado os olhos. Enxergar o outro como ele é, porque no amor você pode ser você mesmo, certo? 

Porém, junto a isso e à evolução do relacionamento, começam a crescer as ideias contrárias – até porque ninguém é constante o tempo todo. E a partir disso começam aquelas coisas que chamamos de dores, porque de certa forma, doi. Tem a ver com a expectativa que colocamos no outro, como nos projetamos. “No amor há algo que se chama identificação, então aquele que ama se identifica com uma parte do ser amado”, explica Amora Fuentes, psicanalista. Procuramos essa identificação, e quando não a encontramos no outro, naquela expectativa que colocamos, acabamos frustrados. 

E quanto ao rompimento de uma relação, por que sofremos? Como fazer para não sofrer? A resposta é simples: não tem como. Sinto muito te decepcionar. Existe aquela frase “aceita que doi menos”, e ela nunca esteve tão correta. A reciprocidade deve ser base, assim como confiança, diálogo – tão esquecido hoje em dia, coitado. Quando algum relacionamento encerra o ciclo, entramos em um processo de luto. A dor e a tristeza são coisas necessárias para que cada um possa elaborar a perda. 

“O que pode vir a doer no jogo do amor está mais ligado ao ego e ao narcisismo. Como Freud, entendo que o narcisismo é imprescindível para o nosso desenvolvimento e uma palavra às vezes usada de forma equivocada. De maneira resumida, o narcisismo é um período importante onde há o investimento de libido no próprio ego, onde vamos conhecendo nosso corpo e nos apropriando dele para, em seguida, investir libido naquilo que nos cerca. O luto nada mais é do que retornar para si mesmo a energia libidinal. Assim, o que doi não é amar e/ou ser amado, mas sofrer uma rejeição ou enfrentar o rompimento de uma relação”, discorre Amora. 

Nick Fewings / Unsplash

Os outros tipos de amores

O amor não é aquele só romântico, longe disso. Existe o amor de amigo, amor de mãe, amor próprio, poliamor… Não dá pra citar todos porque é abrangente demais. São relações diversas mas com um sentimento em comum. Mas não pense que esses amores estão isentos de sofrimento. Às vezes sofremos mais quando brigamos com um amigo do que ao terminar uma relação. 

Em qualquer relacionamento existe cumplicidade. E existem também as ambiguidades, as frustrações. Por toda parte é possível ter desentendimentos – as brigas com a mamãe que digam. Entretanto, são coisas normais. As pessoas são singulares e as relações que criamos com cada uma delas também. 

Por isso, é impossível dizer qual amor é mais válido ou mais saudável. Na verdade, todos os amores são contados. Todos os amores devem ser vividos. “Consideramos justa toda forma de amor”, canta Lulu Santos. O importante é amar e ser amado, saber conviver com as diferenças do outro. Aprender a lidar com elas e com as nossas próprias. 

Porque, independente da relação, as falhas e os defeitos existem. Às vezes ignoramos os lados ruins para evitar sofrer, mas depois se sofre ainda mais profundamente porque tudo vem de uma hora para a outra. É como saber nadar, por exemplo: se continuamos a não dar bola para o não conhecimento e/ou a falta de prática, quando entramos numa piscina funda nos afogamos. É melhor aprender nadando cachorrinho. 

Assim é com as pessoas, as relações, a natação e com qualquer coisa que tenha a ver com o indivíduo como amante e ser amado. Qualquer tipo de amor pode existir em sua forma positiva ou negativa, oscilando entre tais polos. Mas amor é também saber lidar com aquilo que você não concorda, saber dialogar e resolver as diferenças ou inserí-las na sua vida de modo que não te adoeça. 

Por fim

Talvez o texto tenha ficado muito grande e pode ser meio complicado de digerir, por isso vamos recapitular: 

O amor é Eros. A deusa do amor é Afrodite. Ninguém sabe definir completamente esse sentimento incrivelmente profundo mas tão vivo e presente no dia a dia. A dor que existe ao fim de uma relação é parte do processo de luto e é necessário que se deixe sentir para poder cicatrizar. Existem muitos tipos de amores e todos têm lados bons e ruins. 

“O que é amar senão compreender e regozijar-se com o fato de que um ser viva, aja e sinta de maneira diferente da nossa, até mesmo oposta? Para que o amor possa unir os contrários na alegria, não é preciso que os suprima e os anule.

Nietzsche

As relações são únicas porque as pessoas são diferentes. Cada indivíduo tem os próprios defeitos, pontos negativos e discordâncias, mas não é algo que não se possa resolver. No amor deve existir a reciprocidade. Se não se pode contar com isso, talvez seja melhor estar sozinho e investir a energia libidinal em você mesmo.

E partimos para novamente a Amora filosofando (inclusive no Twitter ela faz vários desses pensamentos todos os dias):

“Às vezes não é necessário somente deixar ir aquela pessoa que nos rejeitou, mas também pequenos pedaços de nós mesmos que vamos incorporando nos vínculos com os outros, para assim poder articular novos amores, novos pedaços e seguir na vida”. 

Fim.

Sites de apoio: El País Brasil, Obvious, Publico.

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Um comentário em “Por que existe dor no amor?

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