A pandemia causada pelo novo coronavírus trouxe grandes mudanças na vida de todos ao redor do mundo. Foram decretados o fechamento do comércio, o distanciamento social e o isolamento da população. Com isso, apenas saídas por necessidade, para comprar comida ou medicamentos, foram autorizadas.
Neste cenário que o mundo se encontrou, a economia sofreu efeitos negativos imediatos em vários setores, entre eles, a indústria da moda. Como é considerada uma atividade não-essencial, eventos da área foram cancelados.
“No começo, ela [área da moda] foi muito afetada , ainda mais o mercado internacional, há uma preparação de modelos tanto interno quanto externo para mandar a outro país e com o fechamento das fronteiras, esse mercado já foi afetado logo no início, com as viagens”, comenta Roberto Monteiro, modelo e ator (@robertomonteirooficial).
Além de desfiles, modelos podem realizar trabalhos para comerciais, esse mercado também foi prejudicado pela pandemia, mas, com algumas mudanças parece estar se recuperando de uns tempos para cá.
Roberto explica que testes de trabalho começaram a ser realizados de forma online, ‘o que é uma coisa inusitada, porque você em vídeo e você pessoalmente é outra coisa’, e alguns trabalhos, como peças de teatro, foram produzidos através do aplicativo Zoom. “Fiz dublagens também, eu gravava no computador, era dirigido ao vivo pelo whatsapp, gravava e mandava o áudio pelo whatsapp“.
A partir do final de 2020, começaram a ocorrer trabalhos presenciais, utilizando todas as proteções recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como proteção facial e álcool em gel. “Todo o trabalho que você é aprovado, você é obrigado a fazer o teste de COVID antes de iniciar, se der negativo, você pode fazer o trabalho”, finaliza Roberto.
Mais comodidade
Com o isolamento, as pessoas passaram mais tempo em suas casas, trabalhando de forma remota e usando mais roupas confortáveis mas, ao mesmo tempo, bonitas para participarem de reuniões e aulas por videochamada. Mas dessa forma, o conceito de moda mudou?
Para Giovanna Bertozzi (@gihbertozzi), consultora de estilo, designer de moda e criadora de conteúdo, o conceito de moda mudou. “Antes mesmo da pandemia, as pessoas deixaram de ver a moda como algo fútil, para ver como uma maneira de expressão”. E a busca pelo conforto cresceu. “Virou tendência conjuntos de moletom, roupas confortáveis. A moda teve que se adaptar e no momento que estamos vivendo, o principal fator é o conforto”.
Vinícius Zimmermann, proprietário da Loja Ponto Jeans (@lojapontojeans) , assegura que as pessoas estão buscando mais por peças práticas, confortáveis e com preços acessíveis. Porém, não acredita que o conceito de moda mudou.
“A moda continua a mesma coisa, só a procura tá sendo diferente. As pessoas começaram a procurar principalmente o conforto para trabalhar em casa, e ao mesmo tempo, elas procuram nesta peça uma versatilidade que possa ser usada, também, para sair. Elas querem o conforto, a versatilidade, a praticidade e o preço acessível”.
Segundo uma pesquisa realizada pela Consumoteca, 36% dos entrevistados estão comprando roupas mais básicas para o dia-a-dia na pandemia, além disso, foi mostrado que nenhuma classe ou geração de pessoas sente falta de comprar roupas mais formais, como acontecia antes da pandemia.
A procura por peças mais versáteis, levou as pessoas ficarem cada vez mais conscientes quanto a compra de roupas. “Dando uma generalizada, a gente nota que as pessoas ficaram muito mais conscientes”, comenta Vinícius.
Roberto coloca foco em um tema que está crescendo cada vez mais: a sustentabilidade e o trabalho justo. “A moda geralmente sofre mudanças de acordo com o mundo. Muita coisa influencia na moda e reflete, também, no comportamento de quem usa. A nossa geração está mais consciente com a questão de cuidar do planeta e cuidar de nós mesmos. Vende-se o conceito de trabalho justo, as pessoas estão optando por comprar em brechós porque não há trabalho escravo e isso é um conceito que está sendo levado muito em consideração”.
Segundo a letróloga e escritora Flora Martins, a moda muda porém sempre volta repaginada. “Ela muda com o passar dos anos, mas se prestar a atenção, sempre volta uma moda antiga transformada”. Na hora de comprar, Flora leva em conta por quanto tempo poderá usar a peça comprada e se ela irá combinar com outras peças ou acessórios que possui.
Com a maioria das lojas físicas fechadas, as pessoas que necessitavam comprar roupas foram ‘forçadas’ a usar sites e aplicativos. Algumas lojas que não tinham essa opção tiveram que incluí-la para se adaptarem e não ficarem para trás.
“Nesse momento, o principal fator é a presença digital. Se a empresa não está no digital, ela praticamente não existe”
Giovanna Bertozzi.
Outras lojas, usaram as vendas online para atrair mais clientes, já que com a maioria das empresas indo para o digital, a concorrência aumentou. Vinícius ressalta que sua loja já fazia o uso de vendas online para todo o Brasil, porém, na pandemia adotou um diferencial. “Em relação a vendas online e ao que estávamos acostumado antes, a gente colocou uma promoção de frete grátis. Nós notamos que a procura por compras online cresceu muito e é bem compreensível, pela questão da empatia e de ficar em casa fazendo compras pela internet”.
Roberto acredita que no momento em que as pessoas comprarem pela primeira vez e verem que deu tudo certo, essa forma irá perpetuar. “A maioria das pessoas que não compravam antes online são as pessoas que tinham medo de sofrer um golpe, de ter o cartão clonado e essas pessoas não tiveram muita escolha devido a pandemia. E uma vez que você faz algo que você tem medo e dá certo, a tendência de você repetir”.
Flora Martins gostou dessa nova forma de realizar suas compras, porém, ainda é adepta às lojas físicas. “Achei bárbaro essa nova era de compras pelas internet, mas sinto falta de um provador, de ver e experimentar antes de comprar”.
Nova Era
O que a pandemia do novo coronavírus nos trouxe foi a necessidade de adaptação, tanto das lojas quanto dos próprios consumidores. Estamos vivendo o mundo do digital e com isso, foram criadas novas possibilidades de fazermos nossas compras (tanto de supermercado quanto de roupas).
De acordo com a Nuvemshop, – plataforma que agrega sites de compras online – as compras por e-commerce cresceram 36% na primeira quinzena de abril no Brasil. Ainda segundo a plataforma, o setor de moda aumentou as vendas em 53%.
Em abril, foi publicado um estudo realizado pela Business of Fashion em parceria com a empresa de consultoria McKinsey & Company em que analisa o mercado e as tendências da moda. O estudo “State of Fashion” mostrou que as empresas deverão olhar mais para o digital e a sustentabilidade.
O documento mostra que o consumismo desenfreado deve diminuir após a pandemia, pois as pessoas irão escolher melhor onde compram e o que compram, priorizando a sustentabilidade (15% dos consumidores dos EUA e Europa comprarão roupas mais sustentáveis ecológica e economicamente).
O estudo ainda conclui que essa é a melhor hora para turbinar o digital, enquanto os meios físicos estão fechados ou com restrições.
Giovanna confia que as vendas online irão continuar após a pandemia. “Muitas pessoas que não compravam on-line foram obrigadas a usar esse serviço e viram que pode ser bem mais prático”.
Roberto vê que as lojas online vão crescer mais ainda, porém, isso não quer dizer que seja o fim das lojas físicas. “Cada vez mais as pessoas vão comprar online e vai diminuir a parte física. Mas ainda acredito que vá ter pessoas comprando nas lojas físicas”.
Já Vinícius acredita que é uma constante bem variável. “Vai de pessoa para pessoa, tem gente que gosta de ver, sentir e experimentar o produto na loja e se não gostar, olha outra peça. Assim como tem gente que gosta de comprar online por ser algo mais prático, tem gente que vai retornar a comprar em lojas físicas”.

E você, foi adepto das compras online nessa pandemia? Prefere ir às lojas e experimentar as roupas ou acha melhor recebê-las em casa, com toda a comodidade? Conta para gente!